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setembro 20, 2010
Masp reúne pintura alemã feita desde queda do Muro de Berlim por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de Setembro de 2010.
Neo Rauch, Richter e Martin Kippenberger estão na exposição
Quando veio abaixo o Muro de Berlim, em 1989, também se dissolveram distinções entre Ocidente e
Oriente no contexto da arte alemã. Na pintura, uma mistura de ícones, estilos e situações tomou a dianteira e forjou nos últimos 20 anos uma onda marcada pelo ecletismo.
Mas não foi uma transição sem traumas. Na mostra que o Masp abre hoje, pintores alemães deixam ver nas telas resquícios do que foi crescer numa terra partida ao meio.
Neo Rauch cria um mundo fantástico. Alia figuração forte, de cores densas e raízes na arte pop dos Estados Unidos, a um universo insólito.
Num dos quadros, mostra pescadores arrastando polvos gigantes para fora de um lago. Um deles tem na mão uma enxada que é, na verdade, uma seta apontada para baixo. Destrincha, no fim, uma melancolia frondosa.
Martin Kippenberger, um egresso da era punk, mistura lembranças sexuais e escatológicas ao tédio violento do momento, numa nação cindida entre o trauma da guerra e a pujança industrial.
É a mesma tensão que aparece nos quadros de Daniel Richter, que esconde sob o hedonismo da cor e da abstração uma agonia dolorosa, personagens intoxicados por uma realidade em formação.
Franz Ackermann e David Schnell, embora mais sutis, vão na mesma rota. Mergulham na estridência da cor, mas tentam dar ordem ao caos com elementos geométricos dispersos na massa cromática como estruturas resistentes ao rolo compressor da história e do tempo.
Num ato calculado de transgressão, Tatjana Doll refaz à sua maneira tosca o clássico "Guernica", de Picasso, que chama de "Nada de Novo no Ocidente".
Ela denuncia a mesma decepção latente das telas de Tim Eitel, que mostra figuras solitárias em andanças por museus e galerias. Na maior de suas telas, uma garota olha para fora do museu.
Avista uma paisagem urbana em busca do que a arte não consegue representar.