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setembro 15, 2010
Ponte entre livros e imagens, Diário de Pernambuco
Matéria originalmente publicada no jornal Diário de Pernambuco em 14 de setembro de 2010.
SPA Das Artes // Clássicos da literatura inspiraram a mostra fotográfica que Eduardo Simões inaugura hoje na cidade
Em sua primeira exposição no Recife, o fotojornalista autodidata Eduardo Simões mostra uma série inédita. Ideogramas, que pode ser vista no térreo da Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife, a partir de hoje, parte da árida paisagem da caatinga do Sertão de Canudos, na Bahia, e da Paraíba, para lançar novas interpretações sobre cactos e gravetos secos, retorcidos. A inspiração para as imagens em preto e branco - feitas em negativo Tri-X Pan 6 por 6 e impressas com apoio do Instituto Moreira Salles - veio da obra de escritores como Ariano Suassuna, Euclides da Cunha e Rachel de Queiroz. "É uma revisão de meu trabalho, onde a caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, deixa o lado mítico, de espelho da miséria do país, para ser algo fascinante, com um lado escultórico", pontua Edu Simões.
A outra série exposta na Arte Plural, no primeiro andar da galeria, é Vestígios: o Rio de Machado de Assis, quando o fotógrafo partiu do universo machadiano para capturar no Rio do século 21 resquícios da cidade do século 19. "A exposição é Paisagem sem memória porque as fotos estão descoladas do lado documental, são quase ficcionais, uma invenção do que acho que acontecia naquele tempo", detalha Edu Simões, que clicou desde uma escadaria no Parque Lage, até o bondinho, com a catedral do Rio ao fundo (no contraste entre o passado e uma construção moderna), além de uma esquina de Santa Tereza ao cair da tarde, com os trilhos de bonde cortando o chão de pedra, entre outros cenários.
Nos dois casos, ao fotografar o Sertão e o Rio de Janeiro, o resultado é poético e delicado, propondo novos ângulos para paisagens conhecidas, que deixam de ser elas mesmas para adquirir novas significações. A ideia de ligar literatura e fotografia surgiu quando Eduardo Simões foi convidado pelo Instituto Moreira Salles para participar dos Cadernos de Literatura. O primeiro, sobre a obra de João Cabral de Melo Neto, foi clicado no Recife, 15 anos atrás. "O que importa é o espectador criar seu jogo com a imagem construída, como objeto de arte. Nossa preocupação é estarmos antenados com a contemporaneidade", explica Simonetta Persichetti, crítica de arte e curadora de fotografia da Arte Plural. A mostra integra a programação do SPA das Artes. (Tatiana Meira)