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setembro 14, 2010
Mercado da arte vive boom pré-Bienal por Mariana Barbosa, Folha de S. Paulo
Matéria de Mariana Barbosa originalmente publicada no caderno Mercado da Folha de S. Paulo em 12 de setembro de 2010.
Arte gera R$ 200 mi por ano e artistas brasileiros multiplicam valorização; centenas de estrangeiros vêm a evento
Bienal que começa na semana que vem pode render R$ 250 mi a SP, maior renda turística depois da Fórmula 1
Centenas de colecionadores estrangeiros e diretores de instituições internacionais de prestígio, do MoMa à Tate, chegam ao país na semana que vem para a abertura da 29ª Bienal de São Paulo.
As dezenas de jantares e de visitas guiadas a galerias que os esperam são apenas parte de um momento oportuno para a arte brasileira, que já movimenta estimados R$ 200 milhões por ano.
Desde o início da década, o mercado tem crescido a um ritmo de 50% ao ano. Diversas obras se valorizam a 30% ao ano, deixando para trás outras aplicações de risco. A força econômica do setor não passa despercebida.
"O Brasil está na moda e as pessoas percebem que ter arte em casa é um luxo", diz a galerista Luisa Strina, dona da mais antiga galeria de arte contemporânea de São Paulo. "Primeiro, as pessoas têm de ter casa, carro; depois, um carro melhor. A arte é o último luxo. Um luxo necessário, que te faz pensar."
Luisa afirma que, há menos de dez anos, vendeu um trabalho da série Metaesquema, de Hélio Oiticica, por US$ 5.000. Na última edição da SP Arte, feira que reúne galeristas de todo o país, um Metaesquema similar estava à venda por US$ 250 mil.
"A arte se tornou um ativo muito interessante. Tem muita gente querendo comprar e pouca gente querendo vender", avalia Jones Bergamin, da Bolsa de Arte.
Nem mesmo a crise internacional, que levou a uma retração do mercado de arte europeu e americano da ordem de 30% no ano passado, fez os preços dos artistas brasileiros caírem. "O mercado continuou crescendo, mas o ritmo de alta foi reduzido", diz Bergamin. Ele estima que o mercado deva crescer entre 10% e 20% neste ano.
VALORIZAÇÃO
Depois que a tela "O Mágico" (2001), de Beatriz Milhazes, alcançou a marca de US$ 1 milhão em um leilão da Sotheby"s, em 2008, o mercado de artes passou a atrair investidores interessados puramente no potencial de valorização das obras.
A Plural Capital, butique de investimentos formada por ex-sócios do Pactual, está estruturando um fundo de investimentos de R$ 50 milhões para artes plásticas -o Brazil Golden Art. Com prazo de cinco anos, o fundo pretende passar os três primeiros anos adquirindo obras de artistas contemporâneos, e os dois últimos vendendo.
Heitor Reis, um dos sócios do fundo, diz que já captou 80% do total. "Se analisarmos os últimos dez anos, os investimentos em arte tiveram uma valorização muito superior à da Bolsa." De 1999 a 2009, o Ibovespa subiu, em média, 26,03% ao ano. O BGA não foi às compras, mas Reis já pensa no lançamento de um segundo fundo.
No mundo das galerias, já começam a surgir histórias de especuladores, que compram na galeria e logo em seguida colocam a obra à venda em leilão.
Mas nem só de especuladores e investidores profissionais vive o mercado. Se há 20 anos dava para contar nos dedos o número de colecionadores sérios, hoje eles passam de mil.
Novas galerias surgem a todo instante -eram 50 no eixo Rio-SP no início da década. Hoje são 90. A arte está na abertura da novela da Globo ["Passione"], com trabalho de Vik Muniz.
A Bienal tenta aproveitar esse bom momento, depois de cancelar seu evento dedicado à arquitetura e sofrer o vazio na edição de 2008.
Sob comando de Heitor Martins, sócio diretor da consultoria McKinsey, a fundação arrecadou R$ 45 milhões.
O evento deverá movimentar a economia da cidade de São Paulo em mais de R$ 250 milhões em gastos de turistas -o segundo evento mais importante da cidade, atrás apenas do GP de Fórmula 1, que gira R$ 260 milhões.