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setembro 8, 2010
Quadros poéticos por Nina Gazire, Istoé
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na Istoé em 08 de setembro de 2010
No poema “Horizonte”, Fernando Pessoa aponta que “o sonho é ver as formas invisíveis da distância imprecisa e, com sensíveis movimentos da esperança e da vontade, buscar na linha fria do horizonte a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte”. Inspirado por este preceito poético, o pernambucano Bruno Vieira repensa a função do quadro – e do enquadramento – nas leituras estéticas da realidade. Em sua série de objetos “Vista Inevitável”, o artista ironiza a equivalência estabelecida, desde o Renascimento, entre o quadro e a janela, transformando a paisagem em objeto artístico. A janela então se transforma em cortina, de forma a desvelar uma realidade que nunca é certa. Para esse efeito, são usadas persianas, que têm em suas lâminas impressões fotográficas, transformadas em metáforas de paisagens. “Pensei na relação de obrigação que temos com o horizonte. No caso, a persiana destrói essa falsa obrigação que temos”, afirma Vieira.
Nas persianas, vislumbram-se paisagens “pré-fabricadas” que, manipuladas pelo artista, são, como o poeta afirmou, sonhadas.
Mas, mais que imaginar e sonhar, Vieira reafirma o caráter ilusório da perspectiva. Principalmente em relação ao recurso do ponto de fuga como estratégia de composição das paisagens pictóricas e ao fato de esse modo de representação permanecer instaurado na arte ocidental até hoje. Vieira apresenta atualmente outros trabalhos da série “Vista Inevitável” em outras duas exposições coletivas: uma em Phoenix, nos Estados Unidos, e a outra no Museu Murilo La Greca, no Recife.