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setembro 1, 2010
Dicionário de museus imaginários por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria por Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de São Paulo em 31 de agosto de 2010
Novo MAC-USP no antigo prédio do Detran adaptado repete histórico do museu que até hoje teve mais de dez projetos° arquitetônicos que não saíram do papel
Quando abrir sua nova sede perto do Ibirapuera, no antigo prédio do Detran em dezembro, o Museu de Arte Contemporânea da USP vai escrever mais um capítulo numa história de projetos arquitetônicos que poderiam ter sido e que nunca foram.
Desde que surgiu em 1963, tendo como ponto de partida a doação da coleção de Ciccillo Matarazzo para a universidade, o MAC nunca teve um prédio construído para abrigar suas mostras e coleções.
Mas não faltaram projetos. Pelo menos dez propostas nas últimas cinco décadas já emprestaram forma -imaginária- ao museu com a maior coleção de arte moderna da América Latina, hoje com cerca de 10 mil obras.
Franz Heep, arquiteto que desenhou o edifício Itália, pensou numa sede para o MAC-USP que seria construída no coração da Cidade Universitária, nos anos 60.
Na mesma época, Oswaldo Bratke também imaginou um complexo museológico no que configurava o segundo maior conjunto de construções modernistas em São Paulo depois do Ibirapuera.
Não chegaram a sair do papel. Entre os motivos, falta de verbas e "circunstâncias desfavoráveis", nas palavras do ex-diretor Walter Zanini, da época do regime militar -o redator do AI-5 ocupou o posto de reitor da universidade.
De um projeto de Paulo Mendes da Rocha, entregue em 1974, ficaram só parte das fundações até hoje no campus, espécie de pegadas de um museu que viveu só do nome por quase 30 anos.
Foi só em 1992 que a antiga coleção de Ciccillo Matarazzo deixou o espaço no último andar do pavilhão da Bienal para se instalar num prédio da Cidade Universitária, que adaptou uma residência estudantil para receber o MAC.
MUDANÇA
E, de lá, ele não saiu até agora. Teixeira Coelho, hoje curador do Masp, tentou fazer a mudança quando dirigiu o MAC há dez anos.
Organizou um concurso internacional e recebeu propostas do japonês Arata Isozaki, dos brasileiros Mendes da Rocha e Eduardo de Almeida e do suíço Bernard Tschumi, eleito o vencedor.
Não fosse engavetado pela gestão seguinte, Tschumi teria feito um museu vertical num lote da prefeitura perto do parque da Água Branca.
Passada mais uma década, é para outro parque -e para outro prédio adaptado- que vai agora o MAC.
Oscar Niemeyer tentou mudar seu próprio projeto, o Palácio da Agricultura, de 1951, para receber o museu, mas também essa ideia acabou arquivada por um veto da defesa do patrimônio.