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agosto 19, 2010
Carlito Carvalhosa e Philip Glass - Música das esferas por NIna Gazire, Istoé
Matéria de NIna Gazire originalmente publicada na Istoé Independente em 19 de agosto de 2010.
CARLITO CARVALHOSA E PHILIP GLASS - A SOMA DOS DIAS/ Pinacoteca de São Paulo, SP/ até 7/11
No início de agosto, o pianista norte-americano Philip Glass, conhecido por composições contemporâneas de estruturas bachianas, se apresentou juntamente com a Escola de Música de São Paulo – Tom Jobim, em um recital de piano um tanto diferente daqueles executados em salas de concerto. Glass tocou no centro de uma espiral de tecidos que conforma a instalação “A Soma dos Dias”, obra de Carlito Carvalhosa desenvolvido para o Projeto Octógono Arte Contemporânea da Pinacoteca de São Paulo. Separado do público por planos translúcidos, o músico apresentou uma seleção de suas peças musicais. A ideia surgiu de uma parceria entre os dois artistas em que música e espaço se integram em um espetáculo sensorial, em exposição até novembro. Eles comentam seus processos de criação.
Desde o início da carreira, nos anos 1960, o sr. já realizou várias colaborações com artistas plásticos, como, por exemplo, Richard Serra.
Como é para o sr. a integração da música e das artes visuais?
Philip Glass – A motivação artística do músico e do artista visual vem do mesmo lugar. Ambos esperam alguma participação do espectador. Aqui, a música é integrada ao espaço que Carlito desenvolveu e que não transmite significados prontos. O que vale é a experiência individual que cada um vai ter ao apreender o espaço. A instalação é um catalisador para que as pessoas tenham uma experiência ampliada pelo lugar físico. A música tem o mesmo papel. Ela só é completa quando alguém a escuta. A obra que fiz com o Richard Serra era uma escultura estática. Nessa obra de Carlito existe o movimento e o translúcido dos panos que me possibilitam ver o movimento das pessoas e suas reações. Há uma interação mais dinâmica.
Como surgiu a parceria?
Carlito Carvalhosa – Conhecemo-nos há mais de dez anos, no Rio, e nos tornamos amigos. Comecei a elaborar essa obra e pensei no Philip para fazermos o trabalho juntos. Ele ficou muito contente e desde o início a ideia não foi a de tornar a música um objeto incidental do trabalho. Os dois só funcionariam juntos, o espaço e a música, completando-se. São dois níveis de experiência que acontecem ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Depois de ter um protótipo pronto, o apresentei para o Philip, que desenvolveu uma programação musical para a Escola de Música de São Paulo e outra para ele mesmo. Não estamos em momento algum tentando traduzir a música em peça visual ou vice-versa.
A música já esteve presente em outros trabalhos seus?
Carlito Carvalhosa – Sim, a primeira vez que usei a música foi em uma performance no Rio. Mas é a primeira vez que a música tem esse papel protagonista dentro da obra.
O sr. tem trabalhos inspirados em paisagens brasileiras, como “Itaipu” e “Days and Nights in Rocinha”. Como se dá a relação entre a música e os cenários culturais visitados?
Philip Glass – Bom, eu viajo muito ao Brasil e provavelmente até o conheça mais do que algumas pessoas que vivem aqui. Já toquei em Salvador, Porto Alegre e no Rio e o País possui uma cultura musical muito rica. Quando estou aqui, sofro o impacto da sua vida musical.