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agosto 10, 2010
Elogio aos números por Isabel Costa, O Povo
Matéria de Isabel Costa originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 10 de agosto de 2010.
A partir de amanhã (11), o público cearense vai poder conferir a exposição José Patrício: o número, com curadoria Paulo Herkenhoff. A mostra reúne trabalhos em cores, dominós e quebra-cabeças
O artista nasceu no Recife, Pernambuco, em 1960 e sempre viveu direcionado para a terra natal. Graduou-se em Ciências Sociais e estagiou no Atelier de Restauration d’Art Graphique do Musée Carnavalet (Paris). Já o curador tem vasta produção bibliográfica, foi diretor do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e consultor da Coleção Cisneros (Caracas). Além de ter assumido, entre 1997 e 1999, a curadoria geral da XXIV Bienal de São Paulo. Dessa união de influências, correntes e experiências nasceu a exposição José Patrício: O número que será aberta nesta terça-feira (10), no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza.
José Patrício é o artista plástico que utiliza dominós, dados, números e quebra-cabeças de maneira inusitada. Uma das discussões desta mostra é a sociedade moderna onde quase tudo pode ser quantificado. Ele considera “importante a questão do lúdico que é gerada”. “A utilização do número da matemática cria essas obras dentro do conceito de liberdade”, explica, em conversa por telefone com o Vida & Arte. Mas ressalta que o público não precisa entender o material exposto apenas a partir dos algarismos, pois o olhar e a mensagem impregnada vão além disso.
O curador Paulo Herkenhoff destaca as questões sociais. “Você tem o zero. O que é o zero? O que é o vazio? Nos leva a nossa própria condição de refletir sobre um vazio interior”, pontua. Herkenhoff ainda completa: “Tudo se resume a números na sociedade contemporânea. O número vai se espalhando, penetrando a sociedade”.
O desenvolvimento da mostra começou há tempos. Paulo Herkenhoff estava no Recife e encontrou o artista. Logo surgiu a partilha entre temas e ideias e, depois, o interesse por realizar um projeto juntos. Aconteceram encontros no Rio de Janeiro e em Recife, conversas, anotações, estudos. Tudo sendo articulado aos poucos.
“O trabalho de construção dependeu muito da curadoria, pois ele escolhe as obras que vão participar”, considera José Patrício. Falando sobre sua própria atividade, Paulo Herkenhoff afirma: “Um curador, antes de tudo, tem que ser capaz de enunciar as razões das suas escolhas. Por isso uma curadoria não é uma espécie de decoração de interiores, nem é uma ação de shopping. Exige um trabalho de discernimento”.
Em uma das obras, existem 46.872 pregos convidando as pessoas para aguçar o tato. No intuito de entreter por alguns momentos e convidar também para uma reflexão existe a instalação Jogo Cor. Com suas mesas coloridas e convidativas, vai oferecer a oportunidade de realizar partidas de dominó no meio da exposição. Basta que os visitantes sentem e utilizem as peças dispostas sobre as mesas. Sem cerimônia, sem restrições. E assim são construídos os frutos de José Patrício. Sobressalto de cores, formas, comparações entre formas e volumes, algarismos e uma pitada de interatividade. Nas palavras de Paulo Herkenhoff “nós temos metáforas, analogias, metonímias”.
EMAIS
O curador Paulo Herkenhoff (foto) está preparando um livro chamado José Patrício: Cogitações sobre os números. A publicação vai reunir imagens, textos e materiais referentes a exposição. A previsão de lançamento é para antes do término de José Patrício: O número.