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junho 17, 2010
Mostra opõe telas de Sued a fotos de Wolfenson por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 17 de junho de 2010
Pintor e fotógrafo ocupam segundo andar do Maria Antonia a partir de hoje
Instituição no centro de SP também abre hoje individuais de Otavio Schipper, Marcelo Moscheta e Maria Laet
Está armado um confronto. De um lado, as fotografias digitais de Bob Wolfenson. Do outro, as abstrações cromáticas de Eduardo Sued.
Enquanto Wolfenson fotografa apreensões da polícia, drogas, armas e munição, Sued mostra uma série de pinturas recentes, telas em que opõe o tumulto do gesto a tarjas sólidas de cor.
No segundo andar do Maria Antonia, a mostra que abre hoje parece estabelecer um contraponto entre a realidade exacerbada e a fatura da cor na superfície das telas.
Não que Wolfenson tente fazer denúncia. É outro o significado que tenta extrair das apreensões de contrabando.
Interessa menos o pássaro na gaiola, o carrinho cheio de metralhadoras e fuzis, e mais a natureza-morta dos tempos de hoje, perscrutada com olhar tecnológico, digital.
Sued habita o plano da abstração. Seus desvios não são os descaminhos da Receita Federal, nem são nacionais as fronteiras. Ele alterna nas telas a lisura das cores mais saltadas e a rugosidade das manchas escuras.
É como se tentasse estruturar a origem nebulosa da forma em cor, contraste entre primeiro e segundo planos.
Também na instalação de Otavio Schipper, no primeiro andar, surge um contraste entre analógico e digital. São telefones, telégrafos e um software de leitura para cegos que conversam numa espécie de cacofonia melódica - o ruído desse embate.