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maio 27, 2010

Paredes derrubadas, Zero Hora

Matéria originalmente publicada no Segundo Caderno do Zero Hora em 22 de maio de 2010.

Peças de Joseph Beuys, Robert Smithson, Allan Kaprow, Hélio Oiticica e outros antipapas da arte contemporânea podem ser conferidas pela primeira vez em Porto Alegre a partir de quarta-feira no Santander Cultural

Há momentos que representam mudanças de rumo tão significativas na história da arte que acabam expandindo a própria ideia do que seja uma obra. Foi assim nas décadas de 1960 e 1970. Quem imaginaria, pouco tempo antes, contemplar uma enorme intervenção em forma de caracol, com 457 metros de comprimento, feita de barro, sal e rochas, no Grande Lago Salgado em Utah, Estados Unidos?

O filme de 1970 em que aparece essa intervenção do americano Robert Smithson (1938 – 1973), intitulado Spiral Jetty (e que é, em si mesmo, uma outra obra), está entre as principais atrações da exposição Horizonte Expandido, em cartaz no Santander Cultural, na Capital, a partir de quarta-feira. Com curadoria de André Severo e Maria Helena Bernardes, a mostra traz 72 trabalhos de 16 artistas, entre eles o alemão Joseph Beuys e o brasileiro Hélio Oiticica, que marcaram a transição entre a arte moderna e a contemporânea, renovando até mesmo a terminologia estética. É o caso do americano Allan Kaprow (1927 – 2006), que criou o termo happening para se referir a atividades envolvendo artista e público que borram as fronteiras entre arte e vida cotidiana. Contando com obras (em sua maioria) inéditas na Capital, Horizonte Expandido tem origem no projeto Areal, idealizado por Maria Helena e por Severo, que completa 10 anos de atividade, com diversos livros e filmes produzidos. A seguir, três motivos para conferir a mostra no Santander Cultural:

Para entender o vocabulário da arte contemporânea

Desde o início do século 20, diversos movimentos, como o futurismo, o surrealismo e outros “ismos” exploraram novas dimensões para a arte além dos suportes tradicionais, como pintura, escultura e outros. As performances, por exemplo, incorporaram o tempo como um elemento indissociável das obras – presente na música e no teatro, mas até então ausente das artes visuais. A partir da década de 1960, essa e outras experiências foram retomadas e desenvolvidas. Muito do que hoje se vê com certa naturalidade sob o rótulo genérico de arte contemporânea representou, na época, um choque.

– O contexto da arte era completamente diferente. Estamos falando de uma sociedade pós-industrializada, que descobria novas mídias, como o vídeo – afirma Maria Helena Bernardes.

Para descobrir o que os artistas (e não apenas as obras) têm a dizer

Uma das surpresas reservadas pela mostra Horizonte Expandido é que, no momento em que deparar com as obras, o público vai encontrar também os próprios artistas – em vídeos e gravações de som. Muitos dos trabalhos são registros de suas reflexões sobre arte. Hélio Oiticica (1937 – 1980), único brasileiro na exposição, não está representado pelos objetos que o tornaram célebre, como os parangolés, mas por documentos (fotos e textos de sua autoria) e pela projeção do filme Heliophonia, de Marcos Bonisson. O alemão Joseph Beuys (1921 – 1986), um dos nomes mais importantes do século 20, está em um filme de duas horas de duração em que fala diretamente à câmera, ou melhor, ao público.

Como esses artistas buscaram fugir de espaços de exposição sacralizados, como os museus, um dos desafios dos curadores foi encontrar um ponto de contato.

– Os trabalhos que não poderiam estar em um museu deixamos para comentar diretamente com o público – diz André Severo.

Pensando nisso, os curadores farão 10 passeios guiados por partes da exposição (confira datas no quadro). Também haverá um espaço de leitura com uma biblioteca de cerca de cem volumes à disposição dos visitantes.

Para contemplar a arte sem se preocupar se é arte

Uma das ideias que norteiam a exposição é que o conceito de arte às vezes se impõe como uma dificuldade entre o público e a obra. Nesse caso, a resposta para a manjada pergunta “Isso é arte?” seria: não importa. A proposta está em sintonia com os artistas, que procuraram escapar de gêneros e rótulos. Ao perceber que o termo happening estava institucionalizado no mundo das artes, o mesmo Allan Kaprow que o havia cunhado o deixou de lado, passando a usar uma palavra sem carga histórica – “atividade” – para se referir a suas ações. Os curadores da mostra procuraram seguir a ideia: diferentemente de exposições que procuram relacionar os artistas por meio de um conceito, Horizonte Expandido propositadamente não oferece uma proposta de leitura.

– Hoje temos uma mediação institucional muito densa entre o público e as obras. Há muita explicação, muito texto, muito folder. Queremos tentar mostrar essas obras como foram pensadas no primeiro momento pelos artistas – afirma Maria Helena.

Posted by Marília Sales at 6:43 PM | Comentários(1)
Comments

Considerando-se a Arte uma forma ou várias formas de discorrer sobre a vida, é inaceitável ainda no século XXI tentar limitar tais manifestações em correntes ou segentos. A Arte vai além dos rótulos, não os rótulos do Warhol, mas dos
"ismos" que devemos ter apenas como referência hstórica e demarcadoras de períodos e não de tempo, que tal qual a Arte não tem limitações e nem cede a "modismos". Arte é simplesmente Arte. Se é que Arte é um sentimento simples.

Posted by: Waldemar Max at junho 12, 2010 11:17 AM
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