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Como atiçar a brasa

 


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maio 27, 2010

Eles colocaram a arte em xeque por André Dib, Diario de Pernambuco

Matéria de André Dib originalmente publicada no Caderno Viver do Diário de Pernambuco em 26 de maio de 2010.

Com nove coleções internacionais, algumas inéditas no país, exposição Horizonte expandido propõe um contato com o pensamento de artistas que ampliaram o conceito da arte

Porto Alegre (RS) - O ímpeto libertário dos anos 1960 teve tanto impacto no mundo da arte a ponto de alguns artistas se dedicarem a questionar sua essência, seu modo de produção, sua finalidade. A mostra Horizonte expandido, instalada desde ontem na capital gaúcha, reúne 16 criadores que ampliaram conceitos sobre o que é arte, para que ela serve e o significado do artista. A iniciativa, patrocinada pelo Santander Cultural, trouxe nove coleções internacionais, algumas inéditas no país. Longe de qualquer intenção sacralizante, a proposta é fazer contato não com as obras, mas com o pensamento de Robert Smithson, Bruce Naumann, Gordon Matta-Clark, Dan Graham, Ana Mendieta, Victor Grippo, Nancy Holt, Joseph Beuys, Bas Jan Ader, Valie Export, Dennis Oppenheim, Allan Kaprow, Marina Abramovic, Vito Aconcci, Chris Burden e Hélio Oiticica.

VIVER11_1.jpg Foto: Espolio do Bas Jan Ader e Patric

A exposição está montada em um palácio dos anos 1930 há 10 anos ocupado pelo Santander Cultural. Mesmo para quem está longe para fazer uma visita,vale a pena conhecer seu conceito, reaplicável em qualquer realidade. Ao contrário da maioria das exposições de arte, Horizonte expandido não conta com visita guiada, roteiro, catálogo, material pedagógico ou qualquer outra "bengala" da estrutura expositiva convencional. A não ser pelo amparo teórico de uma pequena biblioteca com obras de referência, o visitante é convidado a decifrar a mostra por conta própria. "É uma museografia voltada para o pensamento. Por isso, eliminamos o máximo de interpostos", diz o artista gaúcho André Severo, curador da mostra ao lado de Maria Helena Bernardes.

"Reunimos artistas referenciais para a nossa formação, por terem questionado a função social de sua arte. Eles colocaram a arte em xeque de tal maneira que ficou difícil seguir em frente. Então passaram por cima deles", diz Severo. "Não pensamos em obras, mas em atitudes, pessoas movidas por interrogações existenciais", diz Helena.

A primeira reação dos curadores, no entanto, foi negar o convite. Como trazer para o engessante espaço do museu artistas que trabalharam processos fluidos, efêmeros? A solução foi reunir registros desses momentos, em filmes, fotografias e textos. Em alguns casos, é possível ouvir depoimentos gravados dos próprios artistas. "Eles romperam com a ideia de que o artista produz para expor. E 99% dos artistas ainda pensam assim. Há uma pressão para que todo o mundo da arte contemporânea caiba nesse sapatinho", diz Maria Helena.

Nesse sentido, Robert Smithson é um dos principais nomes e ganhou espaço central na mostra. Em 1970, sua busca pelo confinamento geológico em paisagens inóspitas gerou obras intrigrantes como uma gigantesca espiral de água e areia intitulada Spiral Jetty. "Ele procurou sua identidade longe da moldura social, que conforta a persona do artista", diz Maria Helena. Uma sala inteira é dedicada a Joseph Beuys, que desenvolveu o conceito de escultura social, da vida enquanto arte. Se tudo está em mutação, é preciso moldar o pensamento, o mundo.

Horizonte expandido não traz objetos consagrados, como os parangolés de Hélio Oiticica. Prefere privilegiar imagens e textos dele, que falam diretamente ao espectador. Como no filme Héliophonia (2002), de Marcos Bonisson, colagem de imagens raras feitas ou protagonizadas pelo artista carioca. "Queremos desmitificar Oiticica. Ele está se tornando o grande produto da arte brasileira, mas tudo que ele não queria era ser objeto de fetiche.".

De Alan Kaprow, criador do happening e pioneiro da performance, a mostra traz áudio, uma série de fotos e curiosos folhetos intitulados Como fazer um happening. Da artista ioguslava Marina Abramovic foi trazido um vídeo de 1980, em que explora os limites de uma relação a dois. Em outros vídeos, é possível assistir Gordon Matta-Clark, o fatiador de edifícios, em ação; Oppenheim experimentando o transfer drawing; o touch-cinema de Valie Export e o bed place de Chris Burden.

- O repórter viajou a convite do Santander Cultural.


Posted by Cecília Bedê at 4:57 PM