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Como atiçar a brasa

 


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abril 28, 2010

Novo museu quer expor um Rio mais cosmopolita por Luiz Fernando Vianna, Folha de S. Paulo

Matéria de Luiz Fernando Vianna originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 22 de abril de 2010.

Projeto de Carlos Lacerda, que tinha ambições políticas e intenção de levantar a autoestima da cidade, é recuperado

Instituição conta com 22 coleções particulares, como as de Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim; espaço terá novelas de rádio e TV

O primeiro Museu da Imagem e do Som do país nasceu em 1965 sobre um interessante paradoxo. Na ressaca por perder o status de capital para Brasília, o Rio queria ressaltar suas características peculiares e mostrar o quanto era uma cidade nacional e cosmopolita.

Na locomotiva do movimento, um governador que planejava grandes realizações no recém-criado Estado da Guanabara -substituto do Distrito Federal e fundido em 1975 com o Estado do Rio de Janeiro- para se tornar presidente da República. No entanto, o regime militar suspendeu as eleições diretas e cassou os direitos políticos de seu ex-defensor Carlos Lacerda.

"Não somos uma capital decaída, somos uma cidade libertada", discursou Lacerda em 1960, no LP de campanha "A Redenção da Cidade", também acenando para o país. "Sabem esses brasileiros que somos uma região sem regionalismo, pensamos os nossos problemas em termos mundiais além de continentais, e continentais além de nacionais."

O MIS era fundamental neste projeto, pois documentaria o que é ser carioca, sem deixar de fornecer "o deslumbramento dos olhos, a diversão para os ouvidos", como destacou Lacerda na inauguração, no ano do quarto centenário da cidade.

A nova versão do museu quer restaurar o projeto inicial, já que na maior parte de sua história, por razões políticas e financeiras, o MIS se limitou a reunir documentos. Mas Rosa Araujo relativiza o protagonismo de Lacerda. "O MIS foi criado por uma geração, que viu a necessidade de se manter a memória do Rio", diz ela, embasada pela historiadora Cláudia Mesquita, que fala no livro "Um Museu para a Guanabara" no "empreendimento coletivo de políticos e intelectuais cariocas, voltados para a reafirmação do Rio como capital cultural do país".

O museu começou com os acervos do colecionador Mauricio Quadrio, do cantor, radialista e pesquisador Almirante e dos fotógrafos Augusto Malta e Guilherme Santos. Hoje, tem 22 coleções particulares, como as de Elizeth Cardoso, Nara Leão e Jacob do Bandolim, além de 1.600 da série depoimentos para a posteridade.

Um terço de seu acervo vem da rádio Nacional. No novo prédio, as novelas de rádio estarão na mesma sala das telenovelas, cedidas pela TV Globo -assim como os programas humorísticos, reunidos no ambiente do "espírito carioca".

Narrativas como uma que parte do filme "Rio 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos, para contar a história da rebeldia no Rio do século 20 serão outros destaques. A bossa nova terá sala semelhante a um apartamento, com vista para o mar e fotos do Rio projetadas.

Nos níveis mais baixos do edifício estarão a boate Noites Cariocas, que durante o dia contará a história da noite do Rio, e uma área de convivência em que as pessoas poderão ver as "manchetes" daquela data, extraídas do acervo.

O centro de documentação passará a ter 300 metros quadrados, com terminais de consulta e salas de pesquisa. Mas a maior parte do acervo não ficará em Copacabana, por razões de segurança e porque estará quase todo disponível digitalmente, inclusive pela internet.

Posted by Cecília Bedê at 5:16 PM