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abril 28, 2010
Futurista, MIS do RJ olha para o passado por Luiz Fernando Vianna, Folha de S. Paulo
Matéria de Luiz Fernando Vianna originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de abril de 2010.
Novo museu foca em maior público, interatividade e no legado cultural carioca
Operação é orçada em R$ 76,5 milhões; instituição terá prédio em Copacabana e Carmen Miranda como principal personagem
A arquitetura e os recursos tecnológicos apontam para o futuro, mas o novo Museu da Imagem e do Som carioca cumprirá uma missão do passado após sua inauguração, planejada para novembro de 2012.
Embora seja um grande centro de documentação, o MIS não conseguiu realizar de modo constante e consistente duas tarefas que tinha em 3 de setembro de 1965, quando o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, abriu suas portas: ser um lugar de produção de bens culturais e de exposição do acervo, não ficando restrito a pesquisadores.
"Ele agora será um museu total, exibindo seu acervo com um conceito e de forma interativa e atraente", diz a presidente da Fundação MIS, Rosa Maria Araujo.
Foi após visitar o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, em São Paulo, que o governador do Rio, Sérgio Cabral, convidou a Fundação Roberto Marinho para fazer algo semelhante com o MIS, dividido hoje entre dois prédios do centro da cidade carentes de reformas e poder de sedução.
Decidiu-se que ele seria o primeiro edifício público da orla de Copacabana, substituindo a boate Help, associada à prostituição e desapropriada por R$ 18,3 milhões -toda a operação do MIS está orçada em R$ 76,5 milhões, sendo R$ 20 milhões de empresas privadas.
Abriu-se um concurso, e o escritório norte-americano Diller Scofidio + Renfro venceu com um projeto que remete às curvas do calçadão que margeia a praia, criado por Burle Marx.
Onze conselheiros passaram três meses destrinchando o acervo para avaliar seu potencial e suas lacunas. Há um ano, o jornalista Hugo Sukman, curador do projeto, vem concebendo as 11 salas -ou "experiências" ou níveis, já que a divisão não é convencional- com Daniela Thomas e Felipe Tassara, responsáveis pela museografia do Museu do Futebol.
"É um museu do Rio de Janeiro, mas não é carioca no sentido bairrista", afirma Sukman, que tem Ruy Castro, Hermínio Bello de Carvalho e Sérgio Cabral, o pai, entre seus conselheiros. "O Rio é caracterizado por sua produção artística, que contribuiu para muito do que chamamos de cultura brasileira, com samba, choro, bossa nova, chanchadas etc., e chegou a outros países."
É o Rio como "capital da identidade do Brasil" que sustenta o conceito do MIS. "Os paparazzi do Leblon sabem do que eu estou falando", brinca Sukman, citando artistas que se radicaram no Rio para explicar melhor: "A música baiana não me interessa, mas Dorival Caymmi sim. O coco da Paraíba não me interessa, mas Jackson do Pandeiro sim".
Carmen Miranda
A principal personagem do novo MIS é Carmen Miranda. O acervo do já existente museu dedicado a ela foi incorporado e será ampliado. Carmen poderá ser vista em três etapas: a importante cantora que surge no Rio, sempre com imagens em preto e branco; o tipo que nasce no filme "Banana da Terra" (1938), no qual veste sua primeira baiana estilizada, já em cores; e a versão exacerbada que faz sucesso em Hollywood.
O público poderá folhear digitalmente esse álbum de imagens, muitas delas em movimento. "Ele escolherá qual momento da vida dela quer ver", diz Tassara, que criou com Daniela uma sobreposição dos figurinos de Carmen e das cenas em que ela aparece com eles.
A tecnologia será marcante em outras salas, como na do choro e do samba. O primeiro gênero, tido às vezes como chato e obsoleto, ganhará uma animação com imagens abstratas que procurará encantar o visitante, um tanto à maneira do clássico "Fantasia", da Disney. A mesma sala se transformará para a exibição de um filme sobre a história social do samba.
Já a história do Carnaval será narrada em forma de enredo de escola de samba. As imagens, raras como as feitas aqui por Orson Welles, serão projetadas nas paredes em 360º.
Rosa Araújo ainda quer seguir um exemplo que viu em Londres e permitir que o visitante leve para casa, num pen drive, a parte da visita que não fira direitos autorais, como algumas ações interativas.