|
abril 5, 2010
Arte e mercado: uma estratégia de inserção por Guy Amado, Istoé
Matéria de Guy Amado originalmente publicada na Istoé em 27 de março de 2010.
1º Salão dos Artistas Sem Galeria/ Casa da Xiclet e Matilha Cultural, SP/ até 18/4
ZONA DE CONFORTO
Artistas sem galeria expõem na Casa da Xiclet
Iniciativa autônoma capitaneada pelo jornalista Celso Fioravante, o 1º Salão dos Artistas sem Galeria surge sob a premissa de proporcionar visibilidade e inserção comercial a artistas que, por motivos diversos, estão à margem do mercado de arte contemporânea. O formato é simples: a partir de um edital aberto, artistas que preenchessem o requisito – único – de não manter quaisquer vínculos oficiais com galerias inscreviam seus trabalhos, mediante o pagamento de uma taxa de R$ 100. O valor arrecadado com as inscrições seria a fonte de viabilização do salão. De um total de 258 inscritos de todo o País, foram selecionados dez artistas, que ganharam o direito de expor sua produção. A seleção foi feita por um júri composto por dois galeristas e um crítico/curador, que também premiou três artistas: Bartolomeo Gelpi, Amanda Mei e Bettina Vaz Guimarães, numa decisão sem surpresas. As exposições trazem conjuntos de trabalhos corretos, que chamam a atenção tanto pela boa média de qualidade como por certa, digamos, falta de ousadia.
Em sua maioria, as obras parecem situadas numa “zona de conforto” em suas formalizações – o que, se por um lado condiz com a premissa embutida de atrair galeristas, por outro decepciona em se tratando de uma iniciativa de caráter independente, da qual se poderia talvez esperar mais experimentação. Seja como for, a proposta do evento traz à tona questões relevantes no que tange às relações entre salões e mercado de arte, bem como a aspectos por vezes perversos na dinâmica que rege o sistema de arte contemporânea. Qualidade do trabalho, tempo de trajetória e comprometimento com a fatura nem sempre se traduzem em garantia de inserção ou aceitação no mercado; os critérios para tal podem ser mais pragmáticos, como sintonia da produção com tendências em voga e outros atributos mais friamente objetivos. A iniciativa deste salão, de resto bem-vinda, tem o mérito de explicitar alguns destes aspectos e propor com franqueza alternativas de inserção em um circuito onde as regras nem sempre estão ao alcance de todos. Já como se dará a transição do lado dos “excluídos” para o lado dos “aceitos”, se efetivada, bem, isso é com os artistas.
Guy Amado é crítico de arte e pesquisador em arte contemporânea
"Conjunto de trabalhos corretos" KKKKKKKKKKKK gostaria muito de conhecer o "conjunto de trabalhos incorretos" KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK...voces são bons humoristas...mas suas piadas cansam rapidamente.
Posted by: Alonso at abril 12, 2010 5:42 PMComo participante do salão dos artistas sem galeria, gostaria de fazer duas observações ao texto do Guy Amado.
Sobre a falta de ousadia nos trabalhos, ou o fato de serem “correto”, friso que, uma vez tendo sido selecionado para o salão, propus aos seus organizadores dois projetos site specific, iniciativa logo apoiada por eles, ainda que ambos se localizassem em áreas tangenciais ao espaço físico das exposições, correndo o risco de nem serem vistos por algum visitante, nem entendidos como "obras do salão". Àquela altura, havia também um dado que acarretava um risco absolutamente prático: o pouco tempo para a execução dos projetos. Como se tratam de pinturas feitas nas paredes da Casa da Xiclet e da Matilha Cultural, se elas não fossem terminadas a tempo, necessariamente seriam expostas incompletas. Por fim, sem margem de tempo, não havia a possibilidade de qualquer ajuste necessário, algo tão recorrente em trabalhos site specific quando estes passam do papel ao espaço.
Cito estes trabalhos meus, mas para falar de outro, me ocorre a obra do Affonso Abrahão. Uma de suas peças tinha dimensões tão ínfimas, que já na abertura desapareceu, não sei se por acidente ou por qualquer outra razão. Ele correu um risco devido a características fundamentais à poética de seu trabalho - e pagou por ele.
O segundo ponto do qual discordo diz respeito à falta de surpresa na premiação. Até este momento, eu nunca participei de nenhuma exposição dentre aquelas tidas como indicadores mais respeitados de novos talentos, como o programa de exposições do Centro Cultural São Paulo, para citar a mais tradicional delas. Neste sentido, não entendo como a premiação que recebi poderia ser vista como “sem surpresa”. Para mim foi uma tremenda surpresa e alegria. Meu filho, que me viu virar cambalhota na sala ao receber a notícia, é testemunha.
Bartolomeo Gelpi
Posted by: Bartolomeo Gelpi at abril 13, 2010 8:54 PM