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abril 1, 2010
Experiências secretas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de São Paulo em 30 de março de 2010.
Folha visita arquivo inédito do artista Flávio de Carvalho que será base de mostras
Numa sala de luz fria, a arquivista usa luvas brancas para mexer nas pilhas de papéis. Um silêncio incômodo contrasta com os documentos de alta voltagem nessas caixas de plástico.
Depois de mais de dez anos de negociações, a Unicamp comprou a metade que faltava dos arquivos de Flávio de Carvalho (1899-1973), até agora na casa de um amigo do artista.
No fim de vida solitário que teve, Carvalho deixou com J. Toledo, autor do "Dicionário de Suicidas Ilustres", que depois se matou, quase tudo o que estava em seus arquivos na fazenda Capuava, em Valinhos (SP).
Juntou pó até agora esse conjunto de projetos arquitetônicos, filmes inéditos, manuscritos e textos sobre moda e psicanálise. Abertas as caixas, o silêncio sobre a figura ímpar de Carvalho, um dos maiores e mais polêmicos nomes do modernismo, começa a se dissipar.
Dessas caixas empoeiradas vai sair uma boa parte do que estará nas mostras dedicadas ao artista neste ano -da retrospectiva no Museu de Arte Moderna à Bienal de São Paulo, passando por exposição no Reina Sofía, em Madri- e um livro com reflexões sobre a moda.
Flávio de Carvalho foi um gênio, não acho necessário que ele deixasse tudo organizado e de mão beijada para que a história se lembre dele.Se alguém, quiser falar de modernismo sem ir afundo em Flávio de Carvalho, não quer realmente falar de modernismo. Flávio de Carvalho foi uma das figuras mais atuantes e marcantes do modernismo e o seu papel é indispensável para história da arte brasileira e, ao meu ver, do mundo. O artista, muito antes do Fluxus (John Cage e Joseph Beuys), já fazia suas experiências (espécie de híbrido entre performance e hapenning) e a frente do teatro de experiências (ou performances) e do clube dos artistas (que viria a dar origem ao nome MAM)foi de singular importância para o modernismo. Se o artista não tem o valor merecido reconhecido pela história, não é culpa dele, pois ele deixou um legado imenso a ser estudado, e sim dos "historiadores".
Posted by: Anderson Benelli at abril 27, 2010 8:55 PM