|
março 16, 2010
Museu deixa só mulheres no acervo por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 16 de março de 2010.
Em cartazes que pregaram nos ônibus de Nova York nos anos 80, o coletivo Guerrilla Girls perguntava se as mulheres tinham de ficar peladas para entrar no museu. Acresecentavam os dados da coleção do Metropolitan: só 5% dos artistas no acervo eram mulheres e 85% das mulheres retratadas nas obras apareciam nuas.
Agora o Centre Georges Pompidou, em Paris, dá a resposta. Não, elas não precisam ficar peladas, talvez sofrer um pouco em performances, pegar em armas e ganhar terreno no campo da abstração.
Num gesto radical, o museu parisiense reformulou a disposição de seu acervo. Retirou obras de todos os artistas homens e encheu todo o quarto andar só com trabalhos de mulheres, entre eles o pôster das Guerrilla Girls.
Nessa primeira ala um tanto militante do novo recorte, está também um dos quadros de Niki de Saint Phalle em que descarrega balas de um revólver sobre a composição.
Mais adiante, Orlan, a performer conhecida por se desfigurar em cirurgias plásticas, aparece em registros de suas ações no próprio Pompidou -numa delas, beijava os visitantes por cinco francos.
A performance em que Valie Export entrou nua num cinema pornô armada com uma metralhadora também orienta um núcleo da mostra sobre a dimensão do corpo na obra das artistas mulheres.
Ana Mendieta está num vídeo em que mata uma galinha, Marina Abramovic se descabela em cena e Gina Pane corta os pés e as mãos subindo uma escada feita de farpas metálicas.
Só depois é a que dor cede espaço à angústia imaterial. Nan Goldin escancara a intimidade em cenas de êxtase e felicidade condenadas ao passado.
Na última sala, Dominique Gonzalez-Foerster documenta sua visita a um parque vazio de Taipé e perde o mapa da cidade, que aparece depois encharcado na chuva. Aponta um novo rumo para a arte do sexo nada frágil.