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março 15, 2010
Compradores viajam atrás de artistas por Ana Paula Souza, Folha de S. Paulo
Matéria de Ana Paula Souza originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 14 de março de 2010.
Os colecionadores de arte popular têm traços comuns: conhecem, de trás para a frente, a biografia dos artistas e, não raro, percorrem longos quilômetros de terra para conhecer o lugar de onde saem as peças.
Tomar contato com essa produção é conhecer, também, o país que a geografia torna distante. "Se você nasceu com os dois olhos abertos, você se encanta", diz o advogado João Maurício Pinho. "Não entendo por que as pessoas penduram um pano da Birmânia na parede e não uma peça feita por um índio."
Cabe aqui o parêntese. Encaixa-se na definição de arte popular o trabalho indígena - aquele não repetitivo - e também o que as cidades, à margem, produzem. O profeta Gentileza, que escreveu nos viadutos do Rio, é um dos nomes do "Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro", de Lélia Coelho Frota.
Pode-se dizer, ainda assim, que essa arte está quase sempre ligada à natureza e que é mais praticada por homens - Izabel Mendes da Cunha e Zica Bergamin são algumas das exceções. É também a faceta ligada à terra a que mais atrai colecionadores.
O chef Alex Atala, por exemplo, começou a coleção comprando, à toa, peças de índios e caboclos que encontrava em viagens. "Comprava o que achava bonito, mas agora estou entendendo o trabalho do artista, a expressão, a continuidade", diz.
A distinção entre habilidade manual e arte só mesmo o treino do olhar, a intuição e o gosto ensinam. "Para os artistas, aquilo é pura necessidade de expressão. A gente é que diz o que é arte", define César Aché, que tem mais de mil peças. Outros conhecidos colecionadores são Fernão Bracher, João Moreira Salles e Jarbas Vasconcelos.