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fevereiro 25, 2010
O Masp mora ao lado por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 25 de fevereiro de 2010.
Museu reforma prédio abandonado doado pela Vivo para criar anexo com pele de vidro, orçado em R$ 15 milhões
No barulho das marretadas que derrubam as velhas paredes do Dumont-Adams, um dos diretores do Masp ergue a voz. "É uma maravilha isso", diz Luiz Pereira Barreto, arquiteto que coordena a reforma do que servirá de anexo para o museu. "Quando vi esse prédio, pensei que o bom seria morar aqui."
Na avenida Paulista, ao lado do edifício desenhado por Lina Bo Bardi onde funciona o maior museu da América Latina, um velho prédio de apartamentos, abandonado há 20 anos, passa por reformas para abrigar um polêmico anexo.
Polêmico porque faz quatro anos que a empresa de telefonia Vivo doou R$ 13 milhões para que o Masp comprasse o prédio, pedindo em troca que se instalasse no topo dele uma antena gigantesca com um logotipo luminoso da marca.
Órgãos de defesa do patrimônio histórico então vetaram o mirante e Vivo e Masp travaram uma batalha na Justiça. Sem a torre, a telefônica queria de volta o dinheiro desembolsado. Em novembro passado, chegaram a um acordo.
E só em janeiro deste ano foi aprovada a captação de mais R$ 15 milhões pela Lei Rouanet para transformar o Dumont-Adams em Masp Vivo. Sem o mirante da discórdia, a empresa se contentou em batizar o espaço pelos próximos 25 anos.
No térreo, ficará uma galeria de exposições temporárias patrocinadas pela Vivo. Também vai migrar para lá a área administrativa do museu. Os sete andares acima vão abrigar uma escola de pós-graduação em museologia, história da arte e restauro que o Masp deve criar.
Acima da laje original do edifício, um cubo branco, com pé-direito de 15 metros, deve receber outras mostras. No topo de tudo, querem construir um café, que já conta com um patrocínio de R$ 2 milhões da Nestlé.
Pele de vidro
A expansão vertical acaba aumentando a altura atual do prédio, de 54 metros, para 70 metros, altura máxima permitida para construções na região da Paulista. Em sintonia com os epigões do entorno, o Dumont-Adams repaginado também vai ganhar uma "pele de vidro", nas palavras de Pereira Barreto.
"Estamos pegando um prédio deteriorado e transformando para o museu", diz o arquiteto. "Vamos ampliar, temos que usar o peso da marca do Masp."
E a Vivo também está de olho nessa marca. Já se comprometeu a doar mais R$ 3 milhões ao museu quando as obras terminarem, em 2012, para implantar mais "projetos de sinergia", como adianta Marcelo Alonso, diretor de relações institucionais da empresa telefônica.
Entre as propostas que circulam, além de afixar a placa Masp Vivo, estão um sistema de visitas guiadas por celular, mostras de arte tecnológica feita com os aparelhos e até mesmo a exposição de obras do Masp na galeria da sede da Vivo, na zona sul da cidade.
Pereira Barreto arremata, dizendo que o museu "não é só um lugar para guardar preciosidades". "Tem que ser dinâmico em todas as áreas", diz. "Queremos fazer uma coisa moderna."