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fevereiro 22, 2010
Espanha quer se tornar referência em arte latina por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 20 de fevereiro de 2010.
Sem bienal expressiva, e com maior feira de arte em queda, país aposta nos museus para se reerguer no circuito global
Reina Sofía compra obras e tem como meta declarada realizar ao menos uma exposição a cada ano com nomes latino-americanos
Uma lâmpada solitária que pende do teto, instalação de Felipe Cohen na Arco, ou as tranças de papel japonês que Mira Schendel faz quase desaparecer no espaço contrastam com o peso que artistas latino-americanos têm conquistado na agenda de exposições de alguns dos maiores museus espanhóis e portugueses.
Parte da explicação do fenômeno está na linguagem discreta, das utopias modernistas e seus desdobramentos concretos. Enquanto curadores redescobrem esses movimentos, também dão margem a crescente fetichização em torno desses artistas. Sem uma bienal expressiva e em plena decadência de sua maior feira de arte, a Espanha aposta nos museus para se reerguer no circuito com nomes que viraram moda.
"Estamos loucos pela América Latina", diz Consuelo Ciscar, diretora do Instituto Valenciano de Arte Moderna.
No coração do país, o Reina Sofía tem como meta declarada realizar pelo menos uma grande exposição por ano com latino-americanos. "Queremos ser o museu referência para isso na Europa", afirma Maria José Salazar, diretora de patrimônio do museu, à Folha. "Estamos levantando um fundo para isso, comprando muitas obras."
Do outro lado da fronteira, Ricardo Nicolau, do Museu de Serralves, no Porto, diz que está de olho em artistas emergentes do Brasil, não só nos consagrados. "Há uma revisão em curso e certo fetiche em torno dos anos 60 e 70. Temos modernistas desalinhados, que não correspondem ao que deveria ser o moderno."
Nesse ponto, museus ibéricos aproveitam a brecha das frágeis relações entre instituições latino-americanas para incrementar suas coleções e redesenhar parte da história. "Já houve esse interesse no passado, mas agora a dinâmica é outra, com uma vontade de releitura", resume Mauro Herlitzka, diretor do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires. "A Espanha quer se tornar o país-chave para o reposicionamento da arte na região."
Mas isso não quer dizer que vai conseguir. Mesmo com a euforia, há quem veja uma tentativa desesperada de se reequilibrar na geopolítica aguerrida das artes visuais. "São Paulo tem mais chance do que a Espanha de virar esse centro", diz Rodrigo Moura, curador do Instituto Inhotim. "É natural querer esse papel, mas eles não estão agora em condições de ser o centro de nada, não é assim tão fácil."