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fevereiro 8, 2010
Catálogo apresenta todas as instalações de Waltercio Caldas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo, em 6 de fevereiro de 2010
Livro sobre exibição no Museu Vale, em Vila Velha (ES), organiza obras do artista compondo uma nova exposição
Catálogos de exposição costumam restringir-se apenas às obras expostas ou, no máximo, a usar outras obras como referência. Mas "Salas e Abismo" é muito mais que um catálogo normal. O livro será lançado até o fim deste mês, por ocasião da mostra de Waltercio Caldas, com o mesmo nome da publicação, no Museu Vale, em Vila Velha, no Espírito Santo.
Além de imagens das nove instalações de Caldas no museu, o catálogo apresenta todas as instalações já realizadas pelo artista, num total de 25, em importantes mostras, como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel (Alemanha).
Algumas delas são inéditas no Brasil, como "Quarteto Amarelo" e "Quarteto Azul", ambas de 1999, expostas no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela (Espanha). O livro traz ainda três textos críticos: de Paulo Venâncio Filho, curador da mostra em Vila Velha, Paulo Sérgio Duarte e Sonia Salzstein.
Caldas, num dos típicos procedimentos da arte contemporânea, costuma realizar um intenso diálogo com a história da arte, sem, contudo, gerar uma mera ilustração dessa temática.
É assim, por exemplo, que ocorre com "Maçãs Falsas" (2008), exposta na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na qual maçãs são dispostas em mesas com vidros entre elas, multiplicando suas imagens, num debate sobre a natureza-morta como gênero da pintura.
Já na série "Veneza", exposta na Bienal de Veneza de 1997, as referências se tornam mais explícitas. Em fios metálicos, que criam formas como vasos e copos, Caldas cola pequenos apêndices com nomes de artistas como Picasso, Renoir, Duchamp e Bosch. Em seu texto, Salzstein detém-se na análise dessa mescla entre palavra e imagem: "Esse trânsito desimpedido entre "ler" e "ver", que faz pensar na provável afinidade do artista com a tradição das correspondências sinestésicas da poesia simbolista e com os jogos entre signos gráficos e visuais tão ao gosto de Mallarmé, por certo influi no modo peculiar como "bidimensionalidade" e "tridimensionalidade" se comutam livremente em seu trabalho."
Nesse trecho, pode-se perceber uma das questões centrais na obra de Caldas, que é a discussão sobre representação, muitas vezes criando, com suas instalações, simples desenhos no espaço, como ocorre em "Próximos", de 2005. No livro, as obras não seguem uma ordem cronológica, mas foram organizadas a criar uma sequência que aproxima a publicação de uma nova exposição. Catálogos assim deveriam se tornar mais comuns.