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fevereiro 8, 2010
Escolha e disposição das obras revela falta de ousadia por por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fábio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo, em 6 de fevereiro de 2010
A exposição "Coleção sob Guarda Provisória do MAC USP" é bastante representativa do que significou o mecenato privado na última década: apenas sob decisão judicial coleções importantes, com raríssimas exceções, foram entregues a museus.
Enquanto no resto do mundo grandes colecionadores tornaram-se parceiros de museus existentes, como o empresário Eli Broad, que doou US$ 60 milhões para o Los Angeles County Museum abrigar parte de sua coleção, por aqui, e principalmente através da Lei Rouanet, continua sendo o Estado o grande provedor dos museus públicos e privados.
No entanto, a exposição "Coleção sob Guarda Provisória do MAC USP" poderia ser uma excelente oportunidade para uma entidade como o MAC -que ainda neste ano deve ocupar parte de sua nova sede, no antigo edifício do Detran- debater o papel atual do mecenato.
Nada seria mais apropriado, afinal o próprio MAC surgiu a partir da impressionante coleção particular de Ciccillo Matarazzo, além do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, uma das estranhas histórias da arte brasileira.
Em vez disso, os curadores do MAC organizam uma exposição burocrática, que trata os três acervos recebidos (do Banco Santos, de Edemar Cid Ferreira, do megainvestidor Naji Nahas e do narcotraficante Juan Carlos Ramírez Abadía) de forma envergonhada, sem assumir, com um debate necessário, sua questionável origem.
Às vésperas de ocupar um espaço com reais condições museológicas e adequadas a seu acervo, o MAC, com essa exposição, sinaliza sua maior fraqueza: a falta total de ousadia. Esse desânimo se espelha na mostra e pode ser conferido também na seleção e na forma de disposição de suas 118 peças: cada coleção apreendida possui uma cor distinta na legenda das obras, e só.
Segundo a exposição, Nahas teria o acervo mais requintado, com modernistas de peso como os brasileiros Di Cavalcanti e Portinari, além do espanhol Joan Miró.
Mas, das mais de mil obras do Banco Santos, a impressão é que se optou pelas mais pitorescas, com algumas exceções como Cildo Meireles, Leda Catunda e Amilcar de Castro. Assim, não é de se estranhar que coleções privadas fujam dos museus públicos.
"A curadoria de uma exposição, assim como a crítica de arte, parte de uma intenção.
Na exposição "Coleções sob Guarda Provisória do MAC-USP", a temática escolhida pela curadoria é o próprio fato de o museu ser portador de coleções de arte apreendidas pela Justiça. Esse foi o debate colocado pelo museu ao apresentar ao público uma exposição de tal porte, com 103 obras de arte.
A intenção, que lamentavelmente passou despercebida pelo jornalista Fabio Cypriano (Ilustrada, 6/2), foi mostrar, cruamente e de modo representativo, as escolhas dos colecionadores.
A questão colocada pelo MAC é justamente o fato de o museu receber, por decisão judicial, obras de arte de maneira indiscriminada."
SÉRGIO MIRANDA, setor de imprensa e divulgação do Museu de Arte Contemporânea da USP (São Paulo, SP)
Posted by: Canal Contemporâneo at fevereiro 12, 2010 1:30 PMNão há nada mais terrível para a arte e os artistas que as matérias terríveis que estampam os jornais... Sou artista e a reclamação é geral – dos artistas plásticos, escritores, atores, dançarinos – Ninguém aguenta esses infelizes e superficiais “formadores” de opinião. O Tônus do texto jornalístico no Brasil é achar sempre a polêmica... Se não existir eles inventam uma. E voilá, o texto está pronto!
Posted by: Carlos at março 8, 2010 9:57 PM