|
janeiro 18, 2010
O Fotográfo Como Curador por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 08 de janeiro de 2010
Rochelle Costi fotografa os porões do CCSP e expõe uma seleção de "objetos encontrados"
Convidada a desenvolver uma obra especialmente para o Centro Cultural São Paulo, referindo-se ao contexto local, a fotógrafa Rochelle Costi elegeu como ambiente de trabalho o subsolo da instituição. Sob os dois pisos que comportam as bibliotecas, as salas de exposição, os teatros, os estúdios, os jardins e as áreas de convivência do Centro Cultural, existe um universo oculto formado por ateliês, oficinas, laboratórios e arquivos. Durante semanas, Rochelle vasculhou os porões – onde são guardadas, por exemplo, as obras do acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo – e fez sua própria seleção de “obras” a serem expostas. Revirando as salas de elétrica, cenotécnica, fotolito, serralheria, gráfica, encadernação e depósito, Rochelle localizou e fotografou 25 composições espontâneas que denominou “objetos encontrados”.
“Minha ideia inicial era fazer algo com os ‘achados e perdidos’. Quando cheguei ao subsolo, procurando a zeladoria, encontrei uma outra ocupação do espaço e o universo que eu gosto de trabalhar, que é o popular”, conta a artista, que elegeu um acervo de imagens representativo desse universo e inventou uma museografia própria para exibi-lo. Na marcenaria, ela achou um tabuleiro de jogo com cores fortes; na serralheria, traquitanas e cacarecos sobrepostos que podem até ser associados a montagens dadaístas. Mas foi na gráfica que ela encontrou o objeto de potencial estético imbatível: uma caixa de madeira amarela, de “design” local, engenhosamente inventada para funcionar como apoio de pastas.
A partir desse objeto, informalmente associado pela artista a uma “caixinha oiticicana” – em referência aos objetos que espacializaram a pintura de Helio Oiticica nos anos 60 –, Rochelle concebeu as caixas que funcionam como suportes de suas fotografias. Dessa forma, os “objetos encontrados” por ela em sua descida ao subterrâneo podem ser vistos dentro de caixinhas de madeira, especialmente confeccionadas na marcenaria do CCSP. “Essas caixas propiciam ao espectador um exercício particular de visão”, define a artista, que criou, em cada uma delas, uma surpresa.
Outros caminhos para a Índia
Urban Manners 2 – Artistas contemporâneos da Índia / Sesc Pompeia, São Paulo / 21/1 a 4/4
Como o Brasil e a China, a Índia está no grupo de países em crescimento que atraem a atenção de investidores de todo o mundo. São países que compartilham não apenas interesses econômicos, mas crises de identidade, já que possuem culturas não europeias que vivenciam a globalização de forma bastante particular. E essas crises são um prato cheio para quem pensa e produz arte. A mostra “Urban Manners 2”, depois de passar por Milão (2007), apresenta pela primeira vez em São Paulo uma seleção de arte contemporânea indiana. “O crescimento econômico da Índia teve impacto na produção de arte, surgiram mais galerias e colecionadores, o que se traduz em mais oportunidades e possibilidades financeiras para os artistas”, explica Peter Nagy, crítico de arte residente em Nova Délhi que auxiliou a curadora Adelina von Fürstenberg na montagem da exposição para o Brasil. Gurus espirituais e artistas psicodélicos já faziam da Índia ponto de referência nos anos 60 e 70. Mas, diante do crescimento econômico, a Índia nacionalista, do hinduísmo e do sistema de castas, abriu espaço para um país cosmopolita e igualmente sedutor. Ao exotismo colorido das tradições soma-se uma cultura urbana condizente com sua condição de potência emergente, revelando curiosas e frutíferas contradições. No Sesc Pompeia, o choque entre tradição e modernidade aparece traduzido em vídeos, esculturas, pinturas, instalações e fotografias realizadas por 11 importantes artistas indianos da atualidade. No vídeo “I Love My India” (foto), a artista Avinash Veeraraghavan explora com montagens caóticas as imagens publicitárias espalhadas pelas cidades do país. Já em “National Product (Gandhi) and Others”, o artista Proibir Gupta mostra uma grande estátua do líder, coberta de grafites e cercada por letreiros de estabelecimentos comerciais. “Esta é provavelmente a obra mais política da exposição. Cada letreiro faz uma piada sobre o choque entre política e religião que acontece hoje na Índia. Algo que Gandhi, sem nunca ter tido a intenção, causou”, comenta Adelina, que é também fundadora da ONG “Art for the World”, criada em 1996 para promover a tolerância e instigar o diálogo entre diferentes culturas. Sempre através da arte contemporânea e do cinema.
Colaborou Fernanda Assef