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janeiro 12, 2010
Placidez e Devastação por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 08 de janeiro de 2010
Fotografia de Caio Reisewitz mostra um artista preocupado com as interferências do homem sobre a paisagem e o meio ambiente
Uma imagem impressiona e influencia Caio Reisewitz desde que começou a trabalhar como fotógrafo. Trata-se da pintura “Mata Reduzida a Carvão”, do paisagista francês Félix Taunay (1768-1824), que veio ao Rio em 1816 acompanhando seu pai, integrante da Missão Artística Francesa, e tornou-se o diretor da Academia Imperial de Belas Artes. Monumental, esse óleo sobre tela datado de 1830 documenta uma queimada na Mata Atlântica fluminense, mostrando que, no início do século XIX, a devastação – decorrente do projeto industrial de expansão de ferrovias – já era uma realidade aqui. Taunay revela nessa pintura uma consciência precoce com o meio ambiente, o que ecoa nas fotografias que Reisewitz fez de queimadas em Bertioga e em Itaquaquecetuba, em 2003 e 2006. Declaradamente inspirado pelas pinturas de paisagem que representavam o Brasil colonial, Reisewitz apresenta na exposição “Parece Verdade”, no CCBB Rio, um retrato dos extremos que caracterizam a paisagem e a cultura brasileira. Esta é a primeira exposição que reúne um conjunto expressivo da obra do fotógrafo paulistano.Selecionadas pelo curador Fernando Cocchiarale, são 50 imagens produzidas nos últimos oito anos, que, juntas, dão a ver as grandes linhas do pensamento visual do artista.
Além da influência da pintura realista e de um olhar preocupado com a preservação ambiental, outra questão que se mostra evidente é o discernimento que Reisewitz faz entre a paisagem natural e a paisagem construída: uma preocupação bastante pertinente na era do Photoshop, quando frequentemente se questiona até que ponto uma imagem é real ou montada. Esse é o caso de “Golf Club”, que apresenta um campo real com aparência artificial. A distância entre a fotografia e o objeto representado está entre os grandes temas de Reisewitz e isso se faz presente também na série recente de fotomontagens, de inspiração dadaísta, feita com recursos manuais e toscos, segundo o artista, “em reação ao Photoshop”. Entre as imagens expostas destaca-se também a série “Utopias Ameçadas”, concebida para a representação brasileira na 51ª Bienal de Veneza, em 2005. São seis fotografias de interiores de edifícios públicos brasileiros – de igrejas barrocas ao gabinete do prefeito de São Paulo, passando pelos edifícios projetados por Niemeyer – que chamam a atenção pela grandiosidade e imponência. É um trabalho sobre a arquitetura do poder, que, visto na perspectiva do conjunto, só evidencia o caráter grandioso que o artista confere às paisagens naturais. “Sim, com a fotografia quero devolver poder à natureza”, diz ele.
PLANTE ESSA ÁRVORE
Projeto Aldeinha/ http://www.bloomproject.org.br
Torne-se um colecionador de arte contemporânea e, de quebra, parceiro de um projeto de transformação socioambiental através da arte. Ao adquirir, por R$ 100, um metro quadrado virtual do Projeto Aldeinha, o comprador passa a fazer parte de uma rede social que inclui artistas, associações, empresários e até três mil habitantes de comunidades carentes da Lapa, na zona oeste de São Paulo. Converter um lugar deteriorado em espaço aprazível (ou em obra de arte) é a meta do artista plástico francês Jean Paul Ganem, que quer fazer um jardim de plantas coloridas e de arquitetura sustentável na área de 17 mil metros quadrados da favela Aldeinha, desocupada pela prefeitura no final de 2008. “Vamos criar núcleos de cooperativismo entre os moradores da favela que foram deslocados e resgatar a memória dos que passaram por ali, reproduzindo com plantas e pedras o traçado original da favela”, diz Ganem, autor de projetos de landscape art no interior da França, em aterros sanitários no Canadá e em pistas de aeroportos.
Além do jardim cromático, o projeto prevê um auditório, uma marquise, uma pista de skate, uma área conversível em espaço para shows, um espaço de inclusão digital, um espaço para grafite e um mirante para ver o pôr do sol. Mais importante ainda: prevê a capacitação profissional de marceneiros e jardineiros entre os antigos moradores da favela, para a construção de todos esses espaços. “O projeto tem um valor ambiental inestimável: ao preservar uma área permeável, que é várzea de rio, estaremos fazendo o contrário do que fizemos nas últimas décadas”, afirma Soninha Francine, subprefeita da Lapa, que está entre os seus apoiadores. A partir de 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, 17 mil cotas do projeto serão colocadas à venda na internet. O investimento aqui não é só em arte, mas no fortalecimento de valores bastante enfraquecidos atualmente, como cidadania e biodiversidade.
sensacional!
Posted by: gabriela greeb at janeiro 26, 2010 5:22 AM