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janeiro 6, 2010
Pintura Eletrodigital por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 30 de dezembro de 2009
Luiz Zerbini reinventa e reafirma sua pintura sem usar tela, pincel e tinta, mas à luz das vibrações cromáticas da imagem digital
Luiz Zerbini é dono de um repertório eclético. Nos anos 80, foi uma das pontas de lança da geração que reintroduziu a pintura figurativa no cenário da arte contemporânea. Mais recentemente, desde que integra o coletivo eletrônico Chelpa Ferro, interessa-se pelo reprocessamento de sinais e informações digitais em instalações sonoras. Com isso, não soa nem um pouco estranho dizer que a mostra “Ruído” seja um cruzamento entre todas as tradições frequentadas por ele: da pintura e das sonoridades à imagem eletrônica. “Zerbini perpassa várias mídias, mas com acento nas questões da pintura, ainda que por estratégias oblíquas”, afirma a curadora Ligia Canongia. Em “Ruído”, Zerbini volta a reinventar a pintura. Artista essencialmente figurativo, elege dessa vez como figura o quadrado: aquele que modela mosaicos de ladrilho na arquitetura carioca dos anos 50; aquele pequenininho e colorido, que aparece quando a imagem de vídeo apresenta defeito; aquele que emoldura cromos fotográficos.
Ou seja, agora Zerbini some com a figura inteligível, exuberante, que tantas vezes elaborou na forma de retratos e paisagens. Cria, em seu lugar, uma informação visual dita “aleatória, sem um sentido definido”: são os ruídos de comunicação, os sinais distorcidos, os bugs de sistema, as falhas de memória. Mergulhado de cabeça no mundo contemporâneo, Zerbini lança mão da situação que intriga e atormenta a todos, aprendizes que somos das novas tecnologias digitais. Ao trabalhar com molduras de slides vazias – estranhamente, sem imagens fotográficas, mas apenas com gelatinas de cores puras –, impõe a obsolescência das técnicas como questão a ser ponderada. Na medida em que não há mais imagem dentro dos frames de slides ou das pinturas, uma revisão dos modos de olhar também se faz urgente.