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dezembro 14, 2009
Arte pop em três tempos por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 11 de dezembro de 2009.
Individuais de Rauschenberg, Vergara e Fromanger mostram como a nova figuração se desenvolveu nos EUA, no Brasil e na França
Carlos Vergara: A Dimensão Gráfica / Museu de Arte Moderna, RJ / até 14/3/10
Gérard Fromanger: A Imaginação no Poder / Museu de Arte Moderna, RJ / até 31/1/10
Robert Rauschenberg: Instituto Tomie Ohtake, SP / de 16/12 a 21/2/10
O foco no mundo mediado pela grande imprensa, pela publicidade e pelos cartazes comerciais fez da arte pop o movimento mais popular da história da arte ocidental. Mais que um movimento, o pop é uma atitude que surge no começo dos anos 60, concomitantemente em Nova York, Londres, Paris, Milão, Los Angeles, São Paulo e no Rio de Janeiro, em reação à hegemonia da pintura abstrata e como crítica à sociedade de consumo. Na França e no Brasil, surge sob o nome de nova figuração. Nos EUA, seus artistas eram inicialmente conhecidos como novos realistas ou neodadas, mas a palavra pop logo se impôs. “A palavra pop é mais hollywoodiana do que histórica”, declarou o americano Robert Rauschenberg, que a partir da quarta-feira 16 terá 98 obras expostas em São Paulo. As nuances da atitude pop podem ser discernidas nas individuais de Rauschenberg, em São Paulo, do brasileiro Carlos Vergara e do francês Gérard Fromanger, no Rio.
A fotografia e a gravura dois meios de reprodução de imagens em escala massiva são mecanismos centrais da atitude pop. Nas “Combine Paintings” de Rauschenberg, a fotografia é apropriada de reportagens jornalísticas geradas diariamente pela imprensa e transferidas para a tela em processos acumulativos de impressões em silk-screen. Em Vergara e Fromanger, a câmera fotográfica funciona como caderno de notas para futuros desenhos e pinturas. Ambas no MAM-RJ, as exposições de Vergara e de Fromanger são uma boa oportunidade para conferir que tipo de diálogo se trava entre as novas figurações brasileirae francesa, embora as mostras não se limitem a obras dos anos 60. Em ambos os contextos, nota-se um misto de crítica e elogio ao pop. “Eles têm em comum uma mesma contaminação pop, só que atravessada por um tônus político distinto da vertente americana”, aponta Luiz Camillo Osório, curador do MAM.
A exposição de Vergara tem como fio condutor obras gráficas, realizadas em papel ou tela ao longo de quase 50 anos. São monotipias, gravuras, desenhos e composições em 3D que atestam a importância que a fotografia teve em toda a sua trajetória. O uso da fotografia como matéria-prima denota o interesse que o artista sempre teve na vida pública brasileira. “Não havia só as questões políticas da época, mas também as questões existenciais de um pós-adolescente, ligadas à mudança de comportamento da sociedade”, diz Vergara. Logo o Carnaval se tornaria seu grande tema, arena de reflexões sobre os rituais de passagem, a tradição popular na vida brasileira, o anonimato e a identidade nas cidades. Um dos pontos altos da exposição é “BR1”, desenho em rolo de 20 metros de papel, apresentado na Bienal de Veneza de 1980, com texto de outro artista carnavalesco: Hélio Oiticica. Embora Vergara considere que sua obra sobre o Carnaval nunca tenha sido bem assimilada, esse núcleo de obras produz um contundente comentário político sobre a capacidade de o brasileiro driblar com a alegria o controle da ditadura militar.
Fromanger tece seu comentário social através do trabalho com a cor. A pintura, para o artista francês, é uma forma de remarcação de territórios. Na série “Album le rouge”, dos anos 60, ele escorre a tinta vermelha de bandeiras das superpotências, manchando com a cor da guerra as fronteiras geopolíticas. Movido pelas manifestações de maio de 68, começa a produzir nos anos 70 uma série de pinturas a partir de fotografias tiradas nas ruas da capital francesa. Nesse trabalho inverte a ordem de valores da sociedade capitalista, deixando os cartazes publicitários em preto e branco e colorindo a população anônima das ruas. Fromanger é um artistadas fronteiras, aproximando em seu trabalhoo comentário social na nova figuração e uma poética de trânsitos e deslocamentos.