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dezembro 3, 2009
Museu Nacional amplia acervo de contemporâneos por Roberta Pennafor, O Estado de S. Paulo
Matéria de Roberta Pennafor originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 3 de dezembro de 2009.
Com a nova política de aquisições, instituição recebe obras de colecionadores e dos próprios artistas
A seção mais conhecida do Museu Nacional de Belas Artes é a de pintores brasileiros do século 19, como Vitor Meireles, Pedro Américo e Almeida Júnior. Mas a política de aquisição hoje privilegia a arte contemporânea, que ganhou uma galeria nova em 2006. A produção atual também responde por 80% das 6.500 das doações feitas à instituição nos últimos seis anos, por pessoas jurídicas, colecionadores e pelos próprios artistas.
Nesse período, o MNBA recebeu obras de nomes como Daniel Senise, Adriana Varejão, Manfredo de Souzanetto e Gonçalo Ivo. "Os próprios artistas ajudaram a criar a galeria de arte moderna e contemporânea, que antes se chamava galeria do século 20. Começa em Visconti e passa por Tarsila, Di Cavalcanti, Portinari. Temos buracos na coleção, estamos buscando Lygia Clark, Helio Oiticica, Ismael Nery...", explica a diretora Mônica Xexéo, que calcula em mil a média de obras doadas todos os anos.
Ela lembra que antes de pensar em adquirir acervo foi preciso pôr ordem na casa. O prédio construído para sediar a Escola Nacional de Belas Artes, e hoje abriga cerca de 16 mil peças de arte, entre pintura, escultura, desenho e gravura brasileira e estrangeira, foi inaugurado em 1908 e estava malconservado até três anos atrás. De lá para cá, o telhado foi consertado, a área da reserva técnica, dobrada, e a construção, modernizada.
Finalizada a grande reforma, o MNBA adquiriu, com recursos do Programa de Qualificação dos Museus para o Turismo, dos Ministérios do Turismo e da Cultura, sete peças que retratam membros da família Ferrez, ao custo de R$ 450 mil. Elas chegaram ao museu no início deste ano. "Agora, estamos seguros para realizar aquisições. Eu não podia pedir antes, sem ter como guardá-las", diz Mônica. Ela não acha que seja "necessariamente difícil" conseguir verbas federais para a compra de acervo - o que deve ocorrer no ano que vem.
Mônica acredita que a possibilidade de dedução do valor da doação do Imposto de Renda pode aumentar o pequeníssimo número de colecionadores particulares, que só chega a 1% do total no caso do MNBA. Quando se trata de artistas vivos que fazem suas doações, a medida os ajudaria a se manter, opina.
O Museu de Arte Moderna tem o privilégio de contar com as aquisições anuais da Coleção Gilberto Chateaubriand, que segue em regime de comodato desde 1993. O megacolecionador, dono do mais completo conjunto de arte moderna e contemporânea brasileira, num total de mais de 6 mil peças de cerca de 300 artistas, compra em média 300 obras por ano. Com isso, ganha o MAM, que se mantém atualizado com a produção nacional.
Chateaubriand, que tem obras também em museus públicos, como o MAC de São Paulo - o MAM do Rio é privado, então não se enquadraria nos casos passíveis de dedução -, acha que o incentivo de 6% teria de ser maior para que outros colecionadores se sintam estimulados. "Isso não é nada, 6% é muito tímido. E doação é algo muito complicado, porque não se tem a garantia da permanência da instituição."
Na opinião do curador do MAM, Luiz Camilo Osório, para convencer particulares a ajudar é preciso ainda desburocratizar o processo. Não só no caso das doações, mas também de repasses para manutenção de reserva técnica, investimento em pessoal, em equipamento e em infraestrutura. "Os departamentos de marketing das empresas não estão interessados nisso, porque não dá tanta visibilidade. Se não for via incentivo ou via Fundo de Cultura, fica difícil."