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novembro 24, 2009
Feira em NY não tem grandes vendas por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 24 de novembro de 2009.
Na terceira edição da Pinta, voltada a latino-americanos, houve aumento de preços, mas compras modestas
No distrito das galerias do Chelsea, uma fila se estendia por mais de um quarteirão. Era gente querendo entrar numa liquidação da Gucci. Na porta ao lado, a Pinta, feira de arte latino-americana, provocou um surto parecido.
Acabaram entortadas algumas esculturas na corrida pelas melhores obras no evento encerrado anteontem, em Nova York. Trabalhos de arte cinética também conheceram outro tipo de movimento, sinal físico de que esse mercado ferve.
Dias antes da terceira edição da Pinta, feira que se consolida aos poucos no mercado global, obras de latino-americanos bateram recordes nos leilões da Christie's e da Sotheby's -que vendeu um trabalho de Sergio Camargo por US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 2,2 milhões).
As formas roliças nos quadros do colombiano Fernando Botero, aliás, são espécie de prenúncio de uma bolha até agora inédita nesse mercado. Se na Sotheby's um Botero chegou a valer US$ 752 mil (R$ 1,3 milhão), um "Bicho", de Lygia Clark, custava US$ 850 mil (quase R$ 1,5 milhão) na Pinta.
Noutro sinal de que latinos entraram na butique do circuito global, até cédulas de zero dólar e moedas de zero cruzeiro de Cildo Meireles foram vendidas como joias, em caixinhas de veludo, a US$ 2.500. Seguindo a expansão do mercado, a Pinta já anunciou uma edição europeia para junho do ano que vem, em Londres.
Mas é uma febre, em parte, de fachada. Enquanto preços sobem, colecionadores e museus ainda saem da recessão com passos tímidos. "Não tem comprador para obras mais caras", reclama Berenice Arvani, dona de uma das sete galerias brasileiras neste ano na Pinta.
Museu convidado pela feira nesta edição, a Pinacoteca do Estado comprou duas obras de Hermelindo Fiaminghi, a US$ 12 mil cada. Até a aquisição da Tate Modern, de Londres, foi modesta: obra do argentino Horacio Zabala, a US$ 30 mil.
Ficaram nas prateleiras o "Bicho" de Clark e até um "Metaesquema", de Hélio Oiticica, inflacionado para US$ 270 mil (quase R$ 470 mil) depois do incêndio que atingiu o acervo do artista no Rio, em outubro.
Entre surtos de alguns preços e grande oferta de obras baratas, os organizadores não esperavam ultrapassar o volume de negócios atingido em 2008, quando venderam US$ 4 milhões. Diego Costa Peuser, um dos diretores da Pinta, diz que "não houve vendas de obras tão caras". Passaram pela feira colecionadores como José Olympio, Alfredo Setubal e Patricia Cisneros.
O jornalista Sílas Martí viajou a convite da Pinta Art Fair.