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outubro 30, 2009
Waltercio Caldas explora contrastes em individual por Mario Gioia, Folha de S. Paulo
Matéria de Mario Gioia originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, em 26 de outubro de 2009
Artista carioca, celebrado no exterior, tem rara exposição no Museu Vale (ES)
Instalações nunca vistas no Brasil ou montadas uma única vez estão entre os destaques da retrospectiva "Salas e Abismos"
Círculos e retas, planos translúcidos de vidro e ambientes inteiramente negros, instalações vertiginosas e trabalhos aparentemente inertes.
O artista carioca Waltercio Caldas, 62, parece gostar de explorar os contrastes da própria obra, em uma mostra que quase serve de retrospectiva, aberta anteontem no Museu Vale, em Vila Velha (ES).
A importância da exposição se dá pela raridade com que Waltercio expõe no Brasil. Um dos mais prestigiados artistas brasileiros no exterior, ao lado de Cildo Meireles e Tunga, é nome comum em grandes mostras -Documenta de Kassel, em 1992, e a Bienal de Veneza, em 1997 e em 2007-, mas tem poucas individuais no país.
"Fiquei muito feliz com o convite do Museu Vale, porque foi a oportunidade de exibir para o público brasileiro instalações nunca vistas no país ou montadas uma única vez", diz.
O artista fez sua primeira individual em 1973, no MAM-RJ, e foi nome-chave na arte experimental brasileira daquela década, quando esteve à frente da revista "Malasartes".
"Salas e Abismos" reúne nove ambientes criados por Waltercio desde 1980, entre eles um inédito, "O Silêncio do Mundo", que introduz o público no galpão de 800 m2.
"O Silêncio..." é uma obra imersiva, em que mesas de granito abrigam planos metálicos, esferas de ônix e pedaços de camurça, todos negros, mas que, banhados por uma luz azul, adquirem outros tons.
"Quis começar a mostra com uma obra silenciosa e que captura o espectador também pela ambientação. Nas mesas, há diversos elementos que perpassam a minha obra", afirma ele.
Na sala seguinte, a instalação "A Velocidade", apresentada anteriormente na Bienal de São Paulo, em 1983, lança o público num espaço vertiginoso.
Duas paredes brancas reúnem centenas de antigas caixinhas de chiclete, com o logotipo raspado. Em uma das paredes, as caixinhas foram pintadas de branco. "Gostaria que o espectador corresse por aqui para ter uma sensação próxima da vertigem.
A exposição, assim, é formada por ambientes estridentes, como esse, e silenciosos, como o que a inaugura."
Jogo misterioso
O ambiente mais antigo da mostra é "Ping-Ping", de 1980, pertencente ao MAM-RJ.
Enigmática instalação, reúne uma mesa de pingue-pongue como tela, ao fundo, e outros elementos, como uma rede de jogo, uma bolinha, óculos e uma raquete perfurada.
"Pensar é uma grande emoção", diz o artista, não revelando sentidos do trabalho.
A exposição ainda tem ambientes vistos em países como Espanha, Portugal, Reino Unido e Itália, como "Meio Espelho Sustenido", um dos destaques da Bienal de Veneza de 2007. Planos de vidro, linhas de metal, fios pendurados e retângulos de cor compõem a obra.
"Se o visitante fosse transparente, seria perfeito", brinca Waltercio, que ganha livro pela Cosac Naify no ano que vem.
Mario Gioia
Enviado especial a Vila Velha (ES)
Waltercio Caldas
Salas e abismos
24 de outubro a 21 de fevereiro de 2010
Museu Vale
Antiga Estação Pedro Nolasco s/n, Argolas, Vila Velha - ES
27-3333.2484
www.museuvale.com
Terça a domingo, 10-18h; sexta, 12-20h
Waltercio Caldas é um dos cinco artistas que protagoniza o filme "A Obra de Arte" do diretor e produtor Marcos Ribeiro do RJ. O filme foi escolhido para participar da 33ª Mostra de cinema internacional de SP, são 70 minutos que mostram de como as coisas acontecem e de como elas podem ser construídas no mundo poético do artista. Junto com Waltercio estão o Tunga, Cildo Meireles,Eduardo Sued, Carlos Vergara e Beatriz Milhazes.
Considere esse comentário como um registro da generosidade desses artistas...