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setembro 28, 2009
Nos jardins do funk por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 24 de setembro de 2009
Obras recentes de Dias & Riedweg desafi am tabus e tecem relações entre violência e prazer
Enquanto os jardins do Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, se preparam para um baile funk comemorativo da aprovação da lei que define o funk carioca como movimento cultural (a festança está prevista para acontecer em 26 de outubro), o circuito de arte paulistano recebe a videoinstalação "Funk Staden", que já levou o ritmo a 15 museus da Europa e dos Estados Unidos. De autoria de Dias & Riedweg, a obra foi comissionada pela Documenta de Kassel, na Alemanha, em 2007, e agora tem sua primeira montagem em território nacional na mostra "Paraísos Possíveis", que reúne oito trabalhos recentes da dupla formada pelo brasileiro Mauricio Dias e o suíço Walter Riedweg.
Se o funk é habitualmente associado ao crime organizado, é muito menos comum compará-lo às práticas canibais do século XVI. A associação rendeu à "Funk Staden" muita controvérsia. A obra chegou a ser condenada como "politicamente incorreta" pela crítica americana, mas, em contrapartida, está entre as mais recentes aquisições do Centro Georges Pompidou, de Paris. Trata-se de uma encenação dos episódios do livro "História Verdadeira", de Hans Staden, realizada por funkeiros do morro Dona Marta, no Rio. No relato, o navegador alemão descreve o ritual de canibalismo a que foi submetido após ser capturado por índios tupinambás no litoral brasileiro. Na videoinstalação, as cenas de devoração são "revividas" pelos dançarinos de funk durante um churrasco no morro.
LIVRO VIRTUAL A imagem da favela ilustra a reedição do livro de Hans Staden
"O imaginário visual do funk que aparece nas páginas policiais dos jornais cariocas é muito próximo das ilustrações do livro de Staden: corpos mutilados para serem devorados publicamente", diz Riedweg. "O trabalho cria desconforto porque a história de marginalização continua até hoje", afirma Dias.
A obra entra no campo espinhoso do preconceito e da discriminação. Atitudes que, teoricamente, serão "punidas" com o aval dos dois projetos de lei de proteção ao movimento funk, aprovados na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Rio, no início de setembro. Mas "Funk Staden" também procura fazer uma revisão da ideia de "paraíso" e de todas as utopias, fantasias e ficções que historicamente lhe são constitutivas. A ideia de paraíso permeia toda a exposição. O mais recente trabalho da dupla, "Paraíso Cansado", feito durante a Segunda Bienal de Canárias, em 2008, propõe uma viagem ao território dos desejos e das aventuras sexuais praticadas publicamente no deserto de Maspalomas, em Tenerife.
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O cubismo e seus entornos nas coleções na Telefonica/Pinacoteca do Estado, SP/ de 29/09 a 1/11
Os livros de história da arte ensinam: Picasso e Braque são os primeiros grandes mestres do cubismo. Depois aparecem Juan Gris, André Lhote e Albert Gleizes para dar continuidade à tradição de observar o mundo sob a ótica geométrica. Até aqui, o cubismo era uma história localizada em Paris, nas primeiras décadas do século XX, fruto do diálogo e da interação entre artistas espanhóis e franceses. Em exibição em São Paulo, a mostra "O Cubismo e Seus Entornos nas Coleções da Telefônica" apresenta uma seleção de 40 obras que relativizam a concepção do cubismo como um movimento essencialmente europeu.
Com presença crescente em território latino-americano nos últimos dez anos, é notável que a empresa de telecomunicações espanhola Telefônica apresente oito artistas de países da América Latina em seu acervo cubista. Integram a mostra obras dos uruguaios Rafael Barradas e Joaquín Torres García; dos argentinos Alejandro Xul Solar, Emilio Pettoruti e Horacio Coppola; do chileno Vicente Huidobro; do peruano Martín Chambi e do brasileiro Vicente do Rego Monteiro, que tem na coleção a tela "Os Talheres", de 1925 (foto). Da grande estrela do cubismo espanhol, Juan Gris, a Telefônica apresenta 11 obras.
"O Cubismo e Seus Entornos" finaliza em São Paulo sua itinerância na América do Sul. Com esta exposição, a Fundação Telefônica marca o início de seu programa de exposições no Brasil. Com foco sobre a arte moderna, o País passa a integrar o projeto "Arte e Tecnologia" da empresa. Já em Buenos Aires e em Lima, onde a fundação já conta com sedes próprias e espaços expositivos, o enfoque é sobre a arte produzida com novas tecnologias.
Colaborou Fernanda Assef