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setembro 15, 2009
Mercado de arte migra para a internet com galerias virtuais por Silas Martí, Folha Online
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Folha Online, em 11 de setembro de 2009.
Está mais elástico, e mais cheio de pixels, o cubo branco. Na esteira do crescimento do mercado de arte, que viu galerias brasileiras ganharem peso internacional, galeristas põem obras à venda na internet.
Focados em nichos diferentes de mercado, sites como o Invest.art e a Galeria Magenta estão no ar há cerca de dois meses. Juntos, vendem obras originais de mais de 20 artistas e planejam ampliar esse quadro.
Antecipando a concorrência, galerias tradicionais aumentam a presença no mercado on-line. As paulistanas Casa Triângulo e Nara Roesler, por exemplo, estudam abrir um braço de vendas dentro de mercados virtuais como o Submarino. Outras, como a Virgílio e a carioca Novembro Arte Contemporânea, já estão até no Facebook.
Outro braço do mercado também já está on-line: o site InArts cuida do licenciamento de imagens de obras para publicação em livros e catálogos.
"Recebo e-mails todo dia de gente querendo entrar para a galeria", diz Tato DiLascio, dono do Invest.art, que representa artistas como Anaisa Franco e Marcela Tiboni, com obras de R$ 230 a R$ 60 mil. "A internet é mais uma possibilidade."
No ar, mas ainda longe de "bombar", a Galeria Magenta se concentra na produção de jovens ilustradores, com preços mais modestos, de R$ 9 a R$ 6.000. "Não existia mercado específico para isso", diz Fernanda Guedes, da Magenta.
"Galeria de arte não é o lugar mais acolhedor do mundo, tem toda uma aura de sofisticação em que as pessoas muitas vezes não se sentem bem", diz Guedes. "Criar esse ambiente talvez tire esse ranço do exclusivo. Na internet, o cliente pode olhar, observar sem pressão."
Sem pressão nem precisão. Se ficou mais fácil digitar o número do cartão de crédito e esperar a obra chegar pelo correio, pode ser bem mais difícil analisar um trabalho original pela tela do computador.
"Tem um tipo de obra que o colecionador precisa tatear, vivenciar em pessoa para decidir se vai comprar ou não", opina a galerista Luciana Brito. "Seria bom talvez para algumas obras mais baratas ou múltiplos."
Eduardo Leme, da galeria Leme, também prefere o mundo real. "Não sou simpático à ideia", diz. "Tem uma negociação muito mais ampla do que só chegar e apertar o "enter"."
Também tem a ver com descer do pedestal. Arte não se mistura fácil à oferta de passagens aéreas, DVDs, livros e outros itens recorrentes nos carrinhos de compra virtuais. "A gente tem arte em outro patamar", diz Ricardo Trevisan, da Casa Triângulo. "Você não entra na internet para comprar um refrigerador e uma obra de arte. O virtual é virtual, mas a gente está trabalhando na real."
"Surpresa bacana"
Real ou virtual pouco importam para a galerista Luisa Strina, uma das primeiras a oferecer obras de seus artistas pelo site norte-americano Artnet. "Fora do Brasil, tem regras: a pessoa paga, a gente manda a obra de arte", conta. "Mas aqui as pessoas têm muito medo que a gente mande uma obra estragada, de a coisa não chegar."
Sobre a visualização on-line, Strina acredita que já é possível ter uma boa noção da qualidade do trabalho pela internet. "Tem obras das quais você não precisa ver detalhes", diz. "Cada vez mais as pessoas vão comprar trabalhos pela internet."
Ainda com certo receio, Eliana Finkelstein, da galeria Vermelho, diz que já chegou a vender obras a colecionadores que viram o trabalho pela internet, mas que já conheciam o artista em questão. De virtual, por enquanto, quer vender só os livros e múltiplos do anexo Tijuana.
No mundo só da internet, Fernanda Guedes, da Magenta, admite que "nada substitui ver a coisa ao vivo", mas adianta que é possível observar, pelo site, detalhes ampliados das ilustrações. Tato DiLascio, do Invest.art, diz que comprar on-line leva sempre a uma "surpresa bacana". "Quando chega à sua casa, vê que saiu ganhando."