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setembro 3, 2009
Artista do Brasil não entra por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do Estado de S.Paulo, em 03 de setembro de 2009.
Outras matérias sobre o tema com debate no Canal:
Mostra de arte brasileira não terá artistas nacionais por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo, com 80 comentários postados
"Panorama estrangeiro" é atacado na web por Fabio Cypriano, Folha S. Paulo
Adriano Pedrosa, curador da tradicional mostra do MAM, explica por que desta vez só estrangeiros
Uma polêmica surgiu em meados deste ano com o anúncio de que o próximo Panorama da Arte Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), marcado para 10 de outubro, seria feito apenas com obras de artistas estrangeiros. Ou seja: o tolhimento de mais um espaço para reflexão sobre a produção contemporânea brasileira? A proposta curatorial é de Adriano Pedrosa, convidado para fazer a edição de 2009 da mostra bienal e tradicional da instituição, criada em 1969.
Segundo ele, não é bem assim. A exposição vai apresentar trabalhos de cerca de 30 artistas, todos estrangeiros, sim, mas que têm a arte brasileira como referência, em especial o modernismo dos anos 1950 e o neoconcretismo nacionais.
"Vejo que as reações (ao projeto) têm em geral um caráter mais conservador, tipicamente territorialista e xenófobo. Se você pensar numa reação de esquerda, ela poderia dizer que se trata de um projeto expansionista, pois há uma 'ocupação brasileira' de territórios artísticos tidos como 'estrangeiros'", defende o curador. Para Pedrosa, a resposta ao debate que já se criou será a própria exposição, concebida, como diz, a partir de duas vertentes: a mostra em si, que ocupará todos os espaços do MAM, e o programa de residência artística feito em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e iniciado em julho. Nove artistas estrangeiros ficam no País durante oito semanas.Eles não têm como obrigação criar uma obra específica para o Panorama, mas estabelecer uma relação, mesmo que rápida, com o País. A reportagem do Estado esteve na semana passada com dois desses artistas residentes, o mexicano Jose Dávila e o argentino Adrián Villar Rojas, que já terminaram sua estada por aqui (leia mais ao lado). Hospedados no Edifício Lutetia, no centro de São Paulo e pertencente à Faap (leia também abaixo), os dois estrangeiros explicaram seus trabalhos para o Panorama num modo de entender melhor a mostra, feita com orçamento em torno de R$ 900 mil.
"Esse projeto responde a diversas avaliações minhas, uma delas é a de que nosso programa de exposições em São Paulo, de um modo geral, é excessivamente voltado para a arte brasileira ou, quando é internacional, vem muitas vezes através de agências de fomento cultural ou de coleções estrangeiras", diz Adriano Pedrosa. "Nossa carência é sobretudo em relação a mostras coletivas internacionais que sejam curadas e produzidas no Brasil. Isso, porém, custa caro."
A mostra Panorama da Arte Brasileira já teve uma série de diretrizes em sua história: começou com o propósito primeiro de promover aquisições para a formação da coleção do MAM com os prêmios de suas edições; depois, eram feitas edições estritamente ligadas a linguagens e gêneros (o desenho, a pintura, a escultura, etc.); e de 1995 para hoje passou a ter um curador convidado pela instituição com autonomia para criar seu próprio projeto (o primeiro foi o de Ivo Mesquita). Em 2003, o museu chamou pela primeira vez um estrangeiro, o cubano Gerardo Mosquera para fazer a curadoria da exposição: e ele fez o Panorama da Arte Brasileira (desarrumado), que mesclou obras de artistas nacionais e internacionais. Adriano Pedrosa afirma que não está agora inventando a roda, citando até mesmo a iniciativa de Mosquera como referência.
A questão da "problemática" entre território , geografia, nacionalidade e a arte não é nova, nem mesmo na trajetória de projetos de Pedrosa, como ele afirma. "Esse Panorama é um questionamento sobre a relação entre arte e nacionalidade e, nesse sentido, sobre a categoria arte brasileira", diz o curador. Segundo ele, sua opção foi se concentrar em artistas e obras que já trabalham de alguma forma com referências a arte e cultura brasileiras, "sobretudo, com modernismo brasileiro, do meio do século, tanto arquitetura quanto artes visuais", parte de uma certa tendência de alguns criadores que "tentam buscar histórias alternativas de modernismo" e também referências sobre o neoconcretismo, impulsionado pela explosão internacional, a partir dos anos 1990, das experimentações de Lygia Clark e Hélio Oiticica. "Não podemos dizer que Portinari, Tarsila e Guignard vão fazer parte da história da arte como Lygia Clark, Hélio Oiticica ou Lygia Pape", completa Pedrosa. "Desta vez, estou buscando artistas que se engajam mais com a arte e com a cultura brasileira, não apenas aquele viajante estrangeiro que vem até aqui e registra imagens."
São artistas basicamente latinos e europeus, de uma geração nascida nas décadas de 1960 e 70, que participam da mostra (Pedrosa também é de 1965). Além dos residentes - alguns deles nunca estiveram no Brasil -, o curador conta que estarão no Panorama: o alemão Franz Ackerman, a italiana Luisa Lambri, o mexicano Damián Ortega e o inglês Cerity Wyn Evans (este com um trabalho com explosivos e uma frase de Caetano Veloso), todos eles com forte relação com o País, e o argentino Nicolas Guagnini.
Agora vai (de canhota):
"...um trabalho com explosivos e uma frase de Caetano Veloso), todos eles com forte relação com o País"
Realmente, a ideia parece interessante, mas dizer a falta de exposições internacionais aqui, é uma mentira. isso serve apenas para mascarar os interesses do curador em se projetar internacionalmente, usando o circuito brasileiro para se promover e distanciar os artistas brasileiros cada vez mais de um bom projeto.
que venham os gringos, sejam bem vindos. pq qdo nós vamos para fora, nao temos nada.
Fazem 5 anos que realizo projetos de curadoria envolvendo brasileiros e artistas estrangeiros. Concordo que projetos internacionais saem mais caros por questões espaciais obvias, mas não deve ser justificativa para uma argumentação curatorial. Creio que o custo relativo de 30 mil reais por artista para a realização deste panorama é um valor bem elevado. Os curadores competem ao invés de trabalharem juntos; e a falta de transparência em todos os projetos curatoriais do país são questões mais importantes do que a qualificação de tal ou qual proposta. Um panorama que fala sobre o "Brasil no estrangeiro" é um panorama artístico estrangeiro, portanto apenas está na instituição e datas erradas. Se há tantas mostras com brasileiros em São Paulo, o próprio MAM deveria decidir pela não necessiadde desta mostra panorâmica, criando definitivamente um programa curatorial que envolva o curador(a) brasileiro(a), os artistas e o publico, com a arte internacional.