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agosto 27, 2009
A arte feita de forma minimalista por Camila Molina, Estadão
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do jornal Estadão, em 27 de agosto de 2009.
O americano Allan McCollum faz sua primeira mostra individual no Brasil
Na ?Bienal do Vazio?, a 28ª mostra de São Paulo, no ano passado, a obra do americano Allan McCollum era uma das poucas que a crítica Aracy Amaral classificou como "trabalho para um espaço de Bienal". No terceiro piso do pavilhão no Ibirapuera, a instalação Drawings, da década de 1980, apresentava mais de mil desenhos emoldurados e dispostos enfileirados sobre mesas, todos trazendo formas em preto que, à primeira vista, pareciam quase todas iguais, mas, na verdade, era cada uma única, incitando no observador a capacidade de reconhecer a sutileza das diferenças. McCollum, que decidiu ser artista em 1967, "na época do minimalismo", recusa, como diz ao Estado, a alcunha de conceitual, apesar de ser identificado assim por sempre criar no terreno do questionamento da arte. Ver Drawings na 28ª Bienal foi o primeiro contato que o público brasileiro pôde ter com sua obra, mas agora, na Luciana Brito Galeria, ele abre hoje sua primeira mostra individual no Brasil, com seleção de trabalhos criados entre as décadas de 1980 e 2008. A curadoria é de Jacopo Crivelli Visconti.
Nascido em 1944 em Los Angeles, mas vivendo e trabalhando em Nova York, Allan McCollum vale-se de um repertório de formas mínimas acumuladas e do uso do branco e preto - sua raiz minimalista, "democrática", como afirma - ao criar espécies de sistemas magnânimos (feitos por lotes) e simples ao mesmo tempo: The Shapes Project (O Projeto das Formas), iniciado em 2005, é uma coleção de cerca de 3 mil pequenas formas diferentes recortadas em madeira - mais uma vez dispostas sobre mesas. Essa obra faz parte da exposição, mas recebe o visitante, na galeria, o trabalho Surrogate Paintings (Substitutos de Pinturas), uma fileira de 70 quadros que parecem todos iguais, como se fossem apenas retângulos negros pintados na tela - mas eles são, novamente, cada um único. Sempre acumulação e seriação (também comentário sobre a lógica da produção industrial em massa) se veem nos trabalhos de McCollum: quantos questionamentos e sensações isso nos dá?
A mais básica questão que move o artista a criar uma "linguagem visual" por meio da simplicidade, que inclui a pintura, a escultura e o desenho, é, segundo ele mesmo: "Por que o trabalho de arte precisar ser raro?" "Quero questionar a lógica disso, incluindo o museu e o colecionador", diz, reforçando que lida assim com a tradição também. Com The Shape Project, com Drawings ou mesmo com Surrogate Paintings, por exemplo, claramente o artista americano trata do campo do individual e do coletivo, de forma tão direta. McCollum também afirma que foi influenciado pelo teatro no início de sua carreira, em especial pela obra de Brecht, que não excluía, segundo o artista, os elementos que indicavam que a peça era, sim, encenação: "Não escondia a iluminação, a música..."
Já as sensações, o senso emocional de ver toda essa acumulação e seriação podem ser diversas. Para o artista ele vê algo "solitário e muito alienado da tradição" - passamos por todos os trabalhos e percebemos que seus sistemas são sempre parecidos, mas com um ponto ou outro muito sutil de questionamento nos seus interstícios. Há até algo de "parte da beleza moderna", ele afirma, citando que podemos ir a um supermercado e perceber a quantidade de pessoas envolvidas em cada um dos produtos que nele estão, nas coisas mais banais.