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agosto 17, 2009
Por um mundo macio por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 14 de agosto de 2009.
Quando Leda Catunda surgiu, em 1983, pintando sobre toalhas e lençóis estampadas com figuras infantis, foi imediatamente notada. Olívio Tavares de Araújo, um dos principais críticos de arte do período, escreveu, na Isto é, que Leda figurava entre os mais "articulados e brilhantes" participantes da mostra "A pintura como meio", no MAC USP. "Leda não se tornará apenas uma das artistas mais reconhecidas de sua geração pelo seu talento, mas, igualmente, pela persona que a mídia criou para ela", escreveria o crítico Tadeu Chiarelli em monografia publicada pela CosacNaify. O livro, de 1998, faz jus ao peso e relevância da obra desta artista paulistana nascida em 1961. Mas é surpreendente que até hoje ela não tivesse recebido uma panorâmica em um museu brasileiro. Com 70 pinturas, aquarelas e colagens, a exposição na Pinacoteca preenche essa lacuna.
fotos: divulgação
É verdade que a maneira como ela aplicava tinta acrílica sobre almofadas, tapetes, cobertores, capachos e todo o repertório de tecidos domésticos foi determinante para a sedução midiática de sua produção. Era irresistível e surpreendente o modo como ela relançava o conceito de "pintura figurativa", sem pintar figuras, mas aproveitando padrões de estampas industriais que encontrava nos tecidos apropriados. Ao utilizar como tela um quebra-cabeça com a reprodução de "Ronda Noturna", famoso quadro de Rembrandt, Leda referia-se à banalização da imagem e anunciava sua filiação à arte pop crítica e conceitual de Nelson Leirner, de quem foi aluna.
É fundamental conhecer Leda Catunda para entender a arte contemporânea brasileira, simplesmente porque ela reinventou tudo o que mexeu: da pintura figurativa à fotografia. Nos últimos dez anos, depois de muita pesquisa com materiais "moles" e da invenção de uma "poética da maciez", segundo suas próprias palavras, ela começou a revisão do retrato fotográfico. Suas formas arredondadas hoje contêm impressões de fotos sobre voile como um recurso a mais de uso de imagem nas pinturas. "Gosto de pensar numa poética da maciez quando me refiro ao meu trabalho, considerando que são feitos de tecidos, são moles, projetam volumes macios e possuem formas orgânicas sendo geralmente arredondados.
Acredito que a busca pelo conforto é uma característica natural das pessoas e que envolve assuntos relacionados ao gosto e demandas afetivas. É para isso que eu olho no mundo, para as escolhas que resultam soluções confortáveis que cada um desenvolve em torno de si na eleição de imagens, personagens, mitos e paisagens", diz Leda Catunda.