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agosto 11, 2009
Mostra revela mundo onírico de Marc Chagall por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo, em 07 de agosto de 2009.
Maior exposição do artista russo já feita no país está em cartaz em Minas Gerais
Mais de 300 obras do artista, mestre do século 20, estão em museu mineiro e vão depois ao Rio, para o Museu Nacional de Belas Artes
Mesmo a morte em Chagall é sublime. Suas flores carregadas de cor não parecem, mas são símbolo de vida frágil. Estão sempre ao lado de amantes, como se marcassem o tempo que resta de êxtase sobre a Terra. Talvez porque o tempo do artista também pareceu medido a conta-gotas. Escapou aos massacres de judeus em sua Rússia natal, fugiu de tropas nazistas que invadiram a França onde se radicou. Numa ironia feliz, Marc Chagall morreu de velho: fez a última gravura, almoçou e dormiu para sempre aos 97.
Na mesma placidez, Chagall escondeu todo o horror sob mantos vibrantes de azul marinho, cor-de-rosa, verde e púrpura. Mais de 300 obras, entre telas, gravuras e esculturas, na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, dão as coordenadas desse universo onírico: homens e animais flutuantes, contornos esmaecidos, luz matizada. "Ele tem essa vibração da cor", diz Fábio Magalhães, curador da mostra. "Por isso, num mundo tão escatológico quanto o da arte contemporânea, Chagall desperta tanto interesse."
Vacas voadoras
Destoa de tudo hoje e destoava então. Em pleno auge do construtivismo russo, no começo do século 20, bolcheviques perguntavam a Chagall o que suas vacas voadoras tinham a ver com a Revolução Russa. Ele rompe com os líderes do movimento, mas não descarta certa geometrização em suas telas com animais, violinistas e amantes em voo livre.
Se não tem a ver com a revolução, tem a ver com a tradição do hassidismo judaico, que pregava a busca do êxtase nas relações com Deus e suas criações no mundo terreno. Chagall mescla tradições e arma um universo cor-de-rosa -a série de gravuras "Dafne e Cloé" é talvez o exemplo mais sólido, na mostra, desse mundo paralelo, embevecido de cores.
Filho de açougueiro, Chagall não esquece bezerros, vacas e os animais de sua vila. Mais tarde, em Paris, tudo ressurge como sonho, cenário pastoril fundido à metrópole que embala toda a sensualidade delicada.
Chagall acabou sendo um amálgama de vanguardas. Nas primeiras paisagens, banais e um tanto esquemáticas, tenta seguir a arquitetura visual de Cézanne -cilindros, cones, esferas. Mais adiante, descobre a selvageria dos campos cromáticos de Matisse. Não chega a destruir a lógica, como os surrealistas, mas desloca tudo de lugar e reorienta o olhar.
O jornalista Silas Martí viajou a convite da Casa Fiat de Cultura