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agosto 6, 2009
Som, imagem e silêncio por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo, em 6 de agosto de 2009.
Museu da Imagem e do Som faz um ano sob nova gestão com grande sucesso de crítica e fracasso de público; apesar de boas exposições, espaço ainda é um dos menos frequentados em São Paulo
Silêncio é a trilha sonora das exposições no Museu da Imagem e do Som. Depois de passar por ampla reforma e uma troca de gestão, faz um ano que a casa reabriu para o público. Além do banho de loja dentro e fora, realizou mostras elogiadas pela crítica, mas ainda tem dificuldade para atrair visitantes.
Com orçamento anual de R$ 7,2 milhões, da Secretaria de Estado da Cultura, o MIS tem cerca de três quartos dos recursos da Pinacoteca do Estado (R$ 10,5 milhões). Mas são gritantes as diferenças de público.
Enquanto o MIS recebe em média 3.600 visitantes por mês -um dos menores números da cidade-, a Pinacoteca tem 50 mil visitas em média. No primeiro semestre, 280 mil pessoas foram à Pinacoteca, 346 mil foram ao Masp e só 21,5 mil, ao museu do Jardim Europa.
Depois de uma gestão conturbada, alvo de investigação do Ministério Público por emitir notas frias e pelo mau uso do prédio do Estado, o MIS virou uma organização social, dirigida por Daniela Bousso, que prometeu "reposicionar" a instituição, transformando o museu em centro de referência para arte em novas mídias.
Tanto Bousso quanto o secretário estadual da Cultura, João Sayad, reconhecem que os números de público estão, de fato, bem abaixo do desejável.
Nesse meio tempo, Bousso conseguiu inventariar boa parte do acervo e já engata uma reforma da reserva técnica para abrigar novas obras, que serão escolhidas por um comitê de aquisições recém-formado.
"Tem tecnologia, mas não é uma Disneylândia"
Diretora do MIS, Daniela Bousso, quer mais dinheiro para atingir metas de público do museu, mas não quer apelar
Apesar de baixa frequência, nova gestão conseguiu inventariar acervo e formou comitê para definir as novas aquisições da instituição
É difícil comparar o público de museus com grande apelo popular, como a Pinacoteca e o Masp, a números de uma instituição com um nicho específico, como o Museu da Imagem e do Som. Mesmo assim, a frequência do MIS deixa a desejar.
"O público ainda está abaixo do que nós esperávamos", afirma João Sayad, secretário estadual da Cultura.
Ele descarta, no entanto, uma comparação com a Pinacoteca, que chama de "joia da coroa dos museus públicos de São Paulo".
"Nos anos 90, a Pinacoteca já estava começando a bombar", diz Daniela Bousso, diretora do MIS. "Nosso trabalho para bombar começa agora."
Bousso afirma que gostaria de ter no MIS um público de até 30 mil por mês, ou seja, dez vezes mais do que o número atual. Segundo ela, o fracasso de público até agora no museu tem a ver com o fato de a instituição ainda estar se reorganizando, depois de anos no ostracismo. Também diz que falta dinheiro.
Enquanto a Pinacoteca, por exemplo, consegue captar até R$ 4 milhões por ano via Lei Rouanet, Bousso
reclama que poucos projetos do MIS são aprovados no Ministério da Cultura e por patrocinadores porque os comitês de avaliação não entendem o segmento de arte em novas mídias.
"Até o nosso país entender que não é assim que se trabalha, vai ser difícil", diz Bousso. "É um esforço hercúleo."
Bousso diz que precisa de mais dinheiro para levar adiante seu projeto e sugere um orçamento entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, o que tornaria o MIS um dos museus públicos mais caros de São Paulo.