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julho 17, 2009
Nova safra argentina por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 3 de julho de 2009.
Panorama da arte contemporânea argentina elege a figuração como principal tendência da produção atual
Argentina hoy/ Centro Cultural Banco do Brasil, SP/ 6/7 a 30/8
O pintor e engenheiro Prilidiano Pueryrredón (1823-1870) teve na Argentina importância semelhante a Almeida Júnior (1850-1899), no Brasil. Um foi pioneiro em documentar nas telas a figura do gaucho argentino, a vida nos Pampas e nas margens do Rio de La Plata; outro foi o primeiro artista plástico brasileiro a retratar o homem da roça. Pueryrredón teve enorme influência sobre o desenvolvimento da arte na Argentina e nomeou sua Escola Nacional de Bellas Artes, onde diversas gerações de artistas tiveram sua formação. O pintor foi fundamental para traçar as diretrizes que acompanhariam a produção daquele país durante todo o século 20: o figurativismo e a narratividade. Até hoje, pelo que atesta a mostra Argentina hoy, esses valores determinam uma boa parte da produção artística do país. A exposição traça um panorama da arte contemporânea argentina, mas elege a figuração como seu partido principal. Tradicionalmente, a figuração divide-se em três grandes eixos: a paisagem e o retrato e a natureza morta.
Na exposição, nota-se uma predileção especial pelas paisagens (urbanas e rurais) e pelos retratos. Como a pintura e a fotografia são os meios que dão melhor resolução à expressão da figura, é natural que eles sejam preponderantes na exposição do CCBB. Artistas como Nicola Constantino, RES e Constanza Piaggio usam a fotografia para questionar alguns pressupostos da perspectiva e da pose. Na fotografia “A Dama” (2005), RES e Constanza Piaggio re-encenam uma tela de Leonardo da Vinci, pintada entre 1483 e 1490, na tentativa de desmantelar alguns mitos gerados pela perspectiva renascentista. Em “La cena” (2008), a artista Nicola Constantino dá um tratamento erótico à uma cena muito próxima ao enquadramento tradicional de uma Santa Ceia.
Entre as figuras de Argentina hoy, encontra-se de tudo, mas muito pouco relacionado à vida da Argentina campestre, tão bem representada pelo mestre Pueryrredón. Sinal de que a produção do país abre-se para o contexto internacional, assim como acontece com a arte brasileira. Entre os 33 artistas presentes na mostra, há desde Jorge Macchi, Tomás Saraceno e Leandro Erlich, de grande projeção internacional, aos jovens talentos Ariel Cusnir e Mariana López, que ainda não fizeram 30 anos. Com obras na coleção Daros Latinamerica e individuais no PS1-MoMA de Nova York e no Museo Nacional Reina Sofia, em Madri, Erlich é considerado, mais que argentino, um artista internacional. Mesmo com a lamentável ausência de artistas de enorme representatividade como Guillermo Kuitca, Roberto Jacoby, León Ferrari e Liliana Porter, a exposição é uma ótima aproximação à uma produção que infelizmente ainda nos é desconhecida e distante.
Roteiros
Moby Dick paulistano
JOÃO LOUREIRO: BLUE JEANS/ Pinacoteca do Estado, SP /até 23/8
Melville não acreditaria. Uma baleia encalhada na Pinacoteca do Estado de São Paulo é uma ficção de tamanho peso, quase tão grande quanto a mais célebre baleia da literatura de todos os tempos. A instalação “Blue Jeans”, de João Loureiro, que ocupa praticamente todo o espaço octógono do museu é uma baleia em escala real, feita de uma tonelada de isopor e revestida com 200 metros de jeans. O tecido, segundo o artista, é fundamental porque representa a cultura de massa e contribui com sua intenção de discutir as relações entre arte e entretenimento, consumo e natureza.
“A baleia é um animal que a gente conhece mais por imagem que pela presença, o que torna ela um ser meio mítico”, explica Loureiro, que já havia trabalhado com instalações de animais em tamanho real na sua primeira individual “Zootécnico”, que esteve em exposição na Galeria Vermelho até o final de semana passado. Na Pinacoteca, “Blue Jeans” faz parte do Projeto Octógono Arte Contemporânea, em que projetos dialogam com o espaço. “Essa instalação é uma resposta direta ao espaço monumental do octógono, que permite o tamanho colossal de uma baleia. Além disso, a Pinacoteca tem uma variedade de exposições de arte contemporânea, arte tradicional, botânica, arqueologia... em fim, achei interessante dar a impressão de um museu de história natural no meio disso tudo”, diz Loureiro.
Fernanda Assef