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Como atiçar a brasa

 


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julho 17, 2009

Um filme noir em Porto Alegre por Paula Alzugaray, Istoé

Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na revista Istoé, em 19 de junho de 2009.

O cineasta Pierre Coulibeuf faz filme-instalação inspirada na arquitetura de Álvaro Siza e na pintura escura de Iberê Camargo

Dédale/ Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre/ Até 30/8

Iberê Camargo começou a pintar paisagens na década de 1940, mas os azuis profundos e os tons fechados só entrariam em sua paleta no final dos anos 1950, quando uma hérnia de disco encerrou-o dentro de casa por um longo período. A imobilidade e a convalescência, na cama, trouxeram-lhe, além das cores escuras, as lembranças da infância e a memória de um elemento que passaria a fazer parte de toda a sua obra: os carretéis que roubava da caixa de costura de sua mãe e logo viravam brinquedos. A escuridão das pinturas dos anos 1960 e a circularidade dos carretéis foram a fonte de inspiração para o artista cineasta francês Pierre Coulibeuf produzir o filme-instalação “Dédale”, em cartaz em Porto Alegre. O trabalho é um site-specific, ou seja, foi concebido e montado de acordo com a arquitetura do edifício do Instituto Iberê Camargo, projetado pelo arquiteto português Álvaro Siza. Composto por três projeções de vídeo e uma série de 12 fotografias, o filme-instalação é um encontro de três artes: a pintura de Iberê, a arquitetura de Siza e o cinema de Coulibeuf. “Tentei realmente me apropriar da arquitetura e do movimento produzido por esta extraordinária espiral. Siza propiciou-me o conceito e a estrutura do filme: o labirinto”, diz o cineasta.

O filme desenvolve, de maneira não-linear, a narrativa do mito de Dédalo, o arquiteto que construiu o labirinto para o rei Minos aprisionar o Minotauro, seu filho monstruoso. Os dois personagens fazem referência a Ariadne e Teseu, interpretados pela atriz portuguesa Vânia Rovisco e o ator brasileiro Matheus Walter. Mas um terceiro personagem, o Minotauro, pode ser reconhecido na aparição das pinturas escuras de Iberê Camargo, freqüentemente enquadradas pela câmera de Coulibeuf. “Eu me atraí particularmente pelas “pinturas escuras”, que representam para mim uma espécie de enigma. Elas aparecem como forças obscuras que assombraram o pintor”, afirma ele.

Coulibeuf é um cineasta que expõe em museus, monta seus filmes em forma de instalações com múltiplas telas, e trabalha no limite entre o cinema, a literatura e as artes visuais. O convite para trabalhar em Porto Alegre partiu do curador Gaudêncio Fidelis, como uma forma de reintroduzir a obra de Iberê no universo contemporâneo, para além de seu contexto moderno. Depois, o filme-instalação “Dédale” será adaptado para exibição no Museu de Arte Moderna de Saint-Ethienne, na França.

Roteiros

Antes tarde

DIÁLOGOS EM MOVIMENTO: VÍDEO-ARTE CUBANA CONTEMPORÂNEA/ Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, Fortaleza/ de 23/6 a 13/9

Para os críticos e historiadores, o uso do vídeo com fins artísticos começou em meados dos anos 60. Mas em Cuba, principalmente por causa do difícil acesso à tecnologia com o embargo econômico, a videoarte teve sua primeira “aparição pública” apenas em 1994, no Festival de Vídeo Arte. Hoje, a intenção da mostra “Diálogos em movimento”, em Fortaleza, é fazer um apanhado geral da produção contemporânea cubana do gênero. São quinze vídeos de quinze artistas reconhecidos no cenário artístico cubano e mundial, mas em sua maior parte desconhecidos do público brasileiro.

As obras selecionados pelo curador cubano Rafael Acosta de Arriba não possuem um vínculo temático. Pelo contrário. A mostra explora temáticas e estilos bem diferentes. O nacionalismo cubano aparece em “Havana Solo”, de Juan Carlos Alom, também conhecido por seus trabalhos em fotografia experimental. O vídeo aborda a música como formadora da identidade cultural nacional. “Tiempos Modernos”, de Fernando Rodriguez, tem a ironia como fio condutor e faz uma sátira sobre a sociedade moderna. “A dream without”, de Luis Gómez, é um exercício surrealista que recria o clássico “Nosferatu” de Murnau.

Freqüentemente, os artistas têm no vídeo uma linguagem complementar a seus trabalhos em pintura e escultura. “Como não poderia deixar de acontecer, muitos códigos artísticos foram incorporados na vídeo-arte cubana, que é assumidamente híbrida. Não é possível definir com precisão características deste gênero em Cuba – como não podemos determinar o que é a vídeo-arte européia ou latino-americana – mas é possível sinalizar algumas características comuns, como, por exemplo, o diálogo com mitos da história da arte, o questionamento social, a veia poética, as referências surrealistas, a ironia”, comenta o curador. A mostra faz parte do projeto “Americanidades”, do MAC-Dragão do Mar, que procura divulgar a produção latino-americana no nordeste brasileiro.

Fernanda Assef

Posted by Ana Maria Maia at 7:24 PM