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julho 17, 2009
Chris Marker apresenta a sua face de fotógrafo por Camila Molina, Estado de S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do Estado de S. Paulo, em 17 de julho de 2009.
MIS abre a exposição Staring Back, com 200 imagens realizadas entre 1952 e 2006 pelo cineasta francês, autor de filmes como Sans Soleil, La Jetée e Cuba Si!
Cineasta, fotógrafo e escritor, o francês Chris Marker, que está para completar 88 anos, é considerado autor de uma obra inovadora no cinema, foi um "outsider da nouvelle vague", como definiu o crítico Luiz Zanin Oricchio no Estado, responsável por trabalhos com "toques de mistério" e tendo como tema recorrente a memória. Até há pouco, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, foi apresentada uma retrospectiva de sua produção cinematográfica, incluindo filmes, vídeos e programas de televisão. Mas agora, no Museu da Imagem e do Som (MIS) é possível ver uma mostra dedicada ao lado fotógrafo de Marker, a exposição Staring Back (Com o Olhar Fixo no Passado), que reúne 200 fotografias feitas pelo francês durante 1952 e 2006.
A exposição, já apresentada em outros países, nasceu de uma simples troca de e-mails entre Bill Horrigan, diretor do Wexter Center for The Arts da Universidade de Ohio, nos EUA, e Marker, em 2006. O artista, durante a conversa, anexou algumas de suas imagens à mensagem e daí foi surgindo a ideia de se fazer uma mostra com suas fotografias, guardadas em um "enorme arquivo". Em Staring Back as obras são em preto e branco e, curiosamente, quase todas no mesmo formato, pequeno, característica que Horrigan, autor da curadoria da mostra (apesar de Marker ter feito a seleção das imagens), considera a definição de um estilo "modernista e doméstico" natural da produção fotográfica do cineasta.
É o retrato do ser humano que interessa a Marker como se pode ver na ampla exposição, um olhar "nada melodramático", ainda diz Horrigan, em que se dá destaque nas imagens aos rostos e olhos de seus retratados. "Basicamente seu foco são pessoas de todo o mundo, sejam anônimas ou não", afirma o curador, ressaltando que Marker continua ativo, apesar de sua idade, mas, ultimamente, explorando mais a mídia digital - entre sua produção recente, cartoons.
Uma grande parte da mostra é dedicada a esses retratos de rostos, nos quais estão apenas as faces no enquadramento da fotografia. São pessoas de diversos lugares do planeta, de épocas diferentes. Conhecidos ou não, todos se misturam - entre eles estão a atriz Alexandra Stewart, o compositor Michel Legrand, o cineasta Andrei Tarkovsky -, mas há também uma série relacionada a animais, principalmente aos gatos, que na "cosmologia" do autor, estão entre as "divindades dominantes e enaltecidas acima dos meros seres humanos". Um viés mais poético sobressai, ou seja, a representação simples feita por um observador que define seus trabalhos como algo fora da chamada "belas artes". Ao mesmo tempo há também fotografias tiradas de seus filmes e vídeos como La Jetée (1962), Sans Soleil (1983) e Cuba Si! (1961) - não frames da película, como frisa Horrigan, mas experimentos do artista.
Por outro lado, a exposição ainda contempla imagens de caráter diretamente documental, como os registros dos protestos políticos da marcha ao Pentágono contra a Guerra do Vietnã, em 1967. Entretanto, o curador considera que mesmo nesses casos o olhar de Marker - que afirmou que a única arma razoável contra a polícia em ato de 1962 só poderia ser uma filmadora - é político num sentido mais amplo, o que inclui a poética. Isso se reforça com a presença de excertos de textos escritos pelo francês com as imagens.