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julho 7, 2009
As vantagens de ser mulher por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 3 de junho de 2009.
Centro Pompidou quer afirmar seu engajamento com as artistas do sexo feminino em exposição de 200 artistas de seu acervo
Elles@centrepompidou/ Centre Pompidou, Paris/ a partir de 27/5
Não deixa de ser interessante ver uma exposição dedicada ao sexo feminino sem que a data de inauguração coincida com o dia da mulher. Por outro lado, a grande bandeira levantada pelas mulheres que se dedicam à arte – sempre, ou pelo menos desde a década de 1960 - foi por um reconhecimento profissional como artistas, e não como “artistas mulheres”. Por esse motivo, a exposição Elles@centrepompidou, em Paris, levanta bastante poeira. Com aproximadamente 500 obras de 200 artistas da coleção do Museu Nacional de Arte Moderna, a exposição quer contar a história da arte dos séculos 20 e 21 a partir da produção feminina, demarcando uma reação a escolhas de outras coleções, como a do Louvre e a do Musée d’Orsay que, segundo a curadora Camille Morineau, “não apresentam eux que homens, ou quase”.
Ao instaurar a produção de contornos feministas como o primeiro capítulo dessa história, o Centro Pompidou pretende afirmar seu “engajamento”.”Por que est-il si mal vu de faire un geste pouvant être interpreté comme ‘feministe’, dans un pays aú la parité dês hommes e dês femmes, si elle esr proclamée comme un necessite, est loin d’être atteinte?”, defende-se a curadora. No percurso temático e cronológico da exposição, abrem a sessão de arte contemporânea artistas como Shirin Neshat, Gina Pane, Ghazel, Sanja Ivekovik, Sophie Demeueter (?), Sandra Vasquez de la Horra e o grupo Guerrilla Girls, com seu outdoor sobre as vantagens de ser uma artista mulher. Entre elas, está o fato de que “não importa que tipo de trabalho você faça, será sempre rotulada de feminina”.
A artista carioca Anna Bella Geiger, que tem duas instalações fotográficas na coleção do Mnam, está instalada na sessão dedicada aos “Trabalhos com a palavra”. No mesmo módulo, a artista francesa Dominique Gonzáles-Foerster, residente entre Paris e o Rio de Janeiro, apresenta a vídeo-instalação Short histories, composta por vídeos realizados em Taipei, no jardim francies da Gloria, no Rio de Janeiro, e na marquise do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Para quebrar o coro feminista, são histórias dedicadas aos escritores Henrique Vila-Matas, Roberto Bolaño e W.G. Sebald.
Sub-dividida em cinco sessões, a mostra oferece bons motivos de reflexão, como as salas dedicadas aos “slogans do corpo”, com Cindy Sherman, Marina Abramovic, Louise Bourgeois, Joan Jonas, Ana Mendieta, entre outras heroínas da emancipação do corpo através da arte. Mas a curadoria também tem momentos extremamente problemáticos e formalistas, como quando aproxima, em uma mesma sala, trabalhos com bordados e costuras, evocando a imagem arquetípica da Penélope tecendo à espera de Ulisses. Ou mesmo quando na sessão “Retratos de família”, faz uma seleção de obras que representam o titulo de maneira completamente literal.
Como saldo, fica a dúvida se, como afirma o pôster do Guerilla Girls, as participante de elles@centrepompidou não estariam aqui se beneficiando da vantagem de “serem incluídas em versões revisadas da história da arte”.