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maio 14, 2009
Afinal, o que constitui o Panorama da Arte Brasileira? por Patricia Canetti
Afinal, o que constitui o Panorama da Arte Brasileira?
PATRICIA CANETTI
A discussão no blog Como atiçar a brasa sobre o Panorama da Arte Brasileira vetado a artistas brasileiros rendeu uma segunda matéria de Fabio Cypriano na Folha de São Paulo em 4 de maio. A matéria, que resume a discussão a um 'ataque' ao conceito da curadoria de Adriano Pedrosa, apresenta algumas opiniões favoráveis e termina dizendo que "a polêmica está ajudando o curador a redefinir sua própria exposição".
Deixando esta discussão de lado, a nova matéria da Ilustrada levanta outra questão: as relações de nosso mercado de trabalho.
Uma discussão calorosa com 80 comentários, em sua maioria postada por artistas, levantando as mais diversas questões em relação à curadoria, que exclui a participação de artistas brasileiros do Panorama da Arte Brasileira, não foi suficiente para o curador ou algum representante da instituição entrar na discussão. Adriano se limita a comentar na nova matéria:
"Sabia que a proposta geraria polêmica, e o formato de blog propicia reações violentas. Como a curadoria é uma prática que exclui muito mais do que inclui, pois o conjunto incluso é sempre infinitamente menor do que o excluído, quanto mais reputada a mostra curada, maior o número de potencialmente frustrados ou irados em relação a ela".
Parece que o curador quis radicalizar a função de excluir e, desta vez, simplificou o trabalho e excluiu a todos... Mas o ponto que considero importante em sua fala é quando ele se refere ao Panorama como sendo uma mostra reputada. Mas, quem a tornou uma mostra reputada? A instituição que a criou, os curadores que trabalharam suas versões anteriores, os artistas que apresentaram suas obras mais recentes em cada uma das edições ou ainda as galerias dos artistas e suas ações comerciais paralelas? Este é um belo exemplo de um trabalho fruto de um sistema, aonde todas as funções importam para chegar a um resultado. Qualquer um destes agentes trabalhando de maneira insatisfatória é capaz de prejudicar o resultado final de um projeto; esta é a natureza dos sistemas.
Mas, se o nosso sistema dispõe de funções hierárquicas para funcionar, não deveríamos confundi-las com a importância de seus produtos para o sistema. Afinal, se os artistas brasileiros cruzarem os braços, instituições, galerias, críticos e curadores terão realmente que trabalhar com arte brasileira feita por estrangeiros (enquanto público e patrocinadores concordarem) ou, simplesmente, mudar de profissão.
Levando-se em conta que a exposição em questão não foi inventada agora, sendo ela fruto de uma genealogia pré-existente, e que os artistas brasileiros, que nela trabalharam ao longo de trinta edições do Panorama da Arte Brasileira (mesmo sem remuneração, como é da praxe da maioria das exposições neste país), ainda não cruzaram os braços, não seria minimamente desejável que esta discussão fosse acolhida pela instituição e pelo curador?
Este episódio só reforça a nossa incapacidade de pensar e agir coletivamente tanto em relação ao crescimento quanto à sustentabilidade (na direção do futuro e de novas gerações) de nosso mercado de trabalho. É mais fácil deixarmos a Bienal de São Paulo falir, museus perderem o rumo, não lutarmos por políticas públicas ou por representações fortes frente a governos e patrocinadores. Somos um segmento fragilizado e vulnerável neste sentido, por sermos mestres apenas em ações individuais e individualistas.
Termino o texto lembrando-me de uma terrível discussão que tive uma vez com duas curadoras. O motivo da discussão: elas não viam problema algum em participar de comissões de seleção e premiação de editais que não remuneram as participações de artistas e ainda cobram que eles sejam responsáveis pelos custos de produção. Na verdade, essas curadoras nem se quer se preocupavam em ler os regulamentos desses editais, porque diziam não ter nada a ver com isso... Será?
Patricia Canetti
Artista e criadora do Canal Contemporâneo
há questões com muita clareza, porém creio que esta clareza não seja compartilhada por muitos.
Posted by: afonso alves at maio 15, 2009 12:17 PMAcredito que toda esta situação esteja tornando todo o sistema citado numa lógica "ilógica", afinal, quem acredita que esta iniciativa faça com que os donos do poder repensem suas atividades?
Ficamos apenas com a colocação: "é importante debater", mas sempre debatemos muito, muito e muito... e nunca chegamos a lugares fixos, apenas atingimos o universo da ilucubração.
Afinal, quem está no grande eixo RJ SP, sabem muito bem excluir todo o resto do Brasil e assim assumir todas as possibilidades sozinhos, para quem está no poder ou faz parte do circulo deste eixo está com problemas, agora todos os outros que estão nas chamadas zonas periféricas apenas continuam sendo excluídos. uma curadoria séria deveria abranger nossa continentalidade
Se os participantes deste eixo estão se queixando, é pq precisam garantir seu território, agora eu pergunto a todos os artistas e curadores que estão nas periferias, vcs estão se sentido lesados? se o panorama mantivesse sua idéia original vcs tbm estariam fora. pq a periferia deve ser afastada.
Nunca vemos um panorama ou uma bienal abrangentes, apenas vemos a afirmação do eixo... pq tanta dissonância neste sistema
na verdade este panorama sempre foi apenas paulistano ou carioca, e na verdade nunca foi brasileiro.
o curador agora nos coloca "a todos sem distinção nesta zona de periferia.
Posted by: carl at maio 15, 2009 1:04 PMConcordo com o colega quando se refere que o panorama artístico barasileiro nunca foi brasileiro, mas paulistano e carioca. Nossos representantes institucionais colocam um abismo cada vez maior entre arte, cultura e público tal qual, a atitude do curador em questão. Aliás, os curadores hoje, realizam exposições para eles mesmos, como foi o caso da bienal do vazio, SP, 2008.
esse adriano é tudo de bom !!!!a bala!!!
Posted by: frida kalo at maio 16, 2009 8:45 PM