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maio 12, 2009
Fotógrafo Martin Parr faz workshop e palestra em SP
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do jornal Estado S. Paulo, em 11 de maio de 2009.
Famoso por seu estilo irreverente, britânico está no Brasil para lançamento de festival de fotografia
Conhecido por suas imagens irreverentes e bem-humoradas do cotidiano, o fotógrafo britânico Martin Parr proclama sua verdade: "A realidade é muito engraçada." Valendo-se dessa premissa, Parr vai tirar algumas horas do dia de hoje para fotografar o que encontrar pela frente na Avenida Paulista, em São Paulo. Escolheu o rush do horário de almoço.
Parr é um dos nomes celebrados da fotografia contemporânea, vencedor de muitos prêmios e membro, desde 1994, da cultuada agência Magnum - criada há mais de 60 anos por Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, David 'Chim' Seymour e George Rodger (há um brasileiro no time atual: Miguel Rio Branco). Mas esse britânico não é propriamente um fotojornalista. Como gosta de dizer, é uma "testemunha do mundo" ao captar - em átimos - os flagrantes do nosso tempo, travestindo-os de cenas irreais, ou seja, de ficção. Sim, todas as suas imagens são retiradas da realidade mesmo, e de lugares bem diversos. É um olhar esperto o olhar de Martin Parr.
Esta não é a primeira vez que ele, nascido em Epsom, em 1952, vem ao Brasil. "Já estive umas cinco, seis vez antes, a primeira delas, há uns 15 anos", conta. As fotos na Paulista fazem parte do workshop que realiza hoje e é fechado para 12 fotógrafos. Amanhã, a partir das 19h30, dará uma palestra gratuita no Museu da Imagem e do Som (MIS). Nos dois eventos, mas, principalmente, no encontro com o público amanhã, em que ele será entrevistado pelos jovens membros do coletivo fotográfico Garapa (Leo Caobelli, Rodrigo Marcondes e Paulo Fehlauer), Martin Parr falará de sua carreira e de sua maneira de tratar a fotografia. Para quem não puder ir ao MIS, a palestra terá transmissão simultânea pelo site www.garapa.org. Uma recomendação, do próprio Parr, é a de que não lhe perguntem o que ele sabe ou acha da fotografia brasileira. "Não posso responder, não conheço muito", diz Parr. "Essa pergunta é um sinal de insegurança. Ninguém pergunta o que se acha da fotografia americana, por exemplo", completa, em poucas palavras.
O fotógrafo britânico trabalha em várias vertentes ao mesmo tempo. Edita livros, faz filmes, trabalha para o ramo da publicidade, faz curadorias, etc - e também é um grande colecionador de livros de fotografia de todo o mundo. Essa característica ágil se reflete em suas fotos. Ele criou um estilo em que suas imagens, "à primeira vista, parecem exageradas ou grotescas". Isso pode se explicar pelo modo como ele utiliza a cor e também pela inusual escolha de perspectiva, como descreve o curador alemão Thomas Weski, completando que, por trás do humor, há também muita crítica aos valores da nossa época.
Unindo o útil ao agradável, o empresário Luiz Marinho aproveitou que Parr viria a São Paulo para participar do projeto Fotolivro Latino Americano e promoveu duas atividades em torno do britânico: o workshop de hoje, com vagas que foram vendidas, cada uma, por R$ 1,6 mil (entre os "alunos" está Bob Wolfenson), e a palestra de amanhã no MIS. Os dois eventos, como conta Marinho, marcam o lançamento do SP Photo Fest, novo festival de fotografia que ocorrerá de 17 a 20 de setembro no MIS.
"Desliguei-me do (festival) Paraty in Foco no fim do ano passado, mas, dirigindo-o por quatro anos, percebi que eventos desse porte acabam por funcionar apenas durante seus poucos dias de realização, o que é uma pena", afirma Marinho, agora diretor executivo do SP Photo Fest. Segundo ele, a Secretaria de Estado da Cultura apoia o novo festival (ainda nem inscrito nas leis de incentivo) não financeiramente, mas cedendo o espaço do MIS. Marinho adianta também próximas atividades, confirmadas, como parte do festival: uma oficina, dia 13 de junho, com o fotógrafo Pedro Martinelli, e workshop e palestra, em setembro, com o fotojornalista checo-americano Antonin Kratochvil, fundador da Agência VII.