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maio 12, 2009
Flores, corpos e luz, pelas lentes de Mapplethorpe por Camila Molina, Estado S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do jornal Estado S. Paulo, em 11 de maio de 2009.
A composição é vital nas mais de 30 imagens criadas entre 1979 e 1989, que celebram a leveza e o purismo das formas
Corpos e flores são dois temas que o americano Robert Mapplethorpe (1946-1989) tomou como os motes máximos para explorar uma relação, por assim dizer, escultórica da luz na fotografia em preto e branco. Deixando de lado o viés polêmico de sua carreira - os retratos que ele fez de teor sexual e que em exposições em todo mundo já levaram a debates fervorosos e até a censura -, vê-se em suas fotografias uma rigidez constante quando a questão é a composição. "É a luz que investiga as superfícies", diz Alexandre Gabriel, diretor da Galeria Fortes Vilaça, onde será inaugurada nesta quinta-feira para convidados e na sexta para o público uma mostra com mais de 30 fotografias do celebrado Mapplethorpe, realizadas entre 1979 e 1989 e todas em torno dos corpos e das flores.
Esta é a segunda vez que a galeria paulistana expõe obras do fotógrafo graças à parceria firmada com a Fundação Robert Mapplethorpe, criada nos EUA por ele mesmo, em 1988, antes de morrer, vítima da aids. Ele imprimiu uma grande quantidade de um conjunto amplo de suas fotografias para que fossem comercializadas depois de sua morte e a renda destinada ao tratamento da aids - as tiragens das imagens são de 5, 10 e 15 exemplares. A primeira mostra na Galeria Fortes Vilaça ocorreu em 2005 e teve curadoria do artista brasileiro Vik Muniz, que escolheu do acervo da fundação 50 imagens feitas entre 1975 e 1989, privilegiando um caráter inusual da produção de Mapplethorpe, como fotografias de paisagens e de interiores de casas - mas todas elas de uma composição minimalista, de formas em destaque em detrimento do tema. Agora, nesta nova exposição, também a seleção feita pela Fortes Vilaça não traz nenhuma das obras da produção mais radical de Mapplethorpe - fica em evidência a leveza ou o purismo das formas, obsessão na carreira do americano que teve, na base de sua formação, a pintura e a escultura, desenvolvidas em cursos no Pratt Institute de Nova York.
Como conta Alexandre Gabriel, a inspiração para se fazer esta atual mostra em São Paulo foi a de coincidir com o tema da exposição Perfection in Form, que será inaugurada no dia 26 na Academia de Belas Artes de Florença, na Itália. "Lá estarão as fotografias de Mapplethorpe entre as esculturas de Michelangelo", diz Gabriel. E também as imagens que o fotógrafo realizou das obras do artista italiano na galeria onde está a famosa escultura do Davi. "É uma relação direta com a escultura", diz ainda o diretor da galeria.
Na Fortes Vilaça, as fotografias que têm como tema os corpos são maioria, mas, eles nunca aparecem inteiros - e, muitas vezes, nem aparecem rostos dos retratados. Das celebridades e personalidades do underground nova-iorquino que Mapplethorpe tanto registrou estão apenas um retrato da cantora e compositora Patti Smith (de costas, em meio a véus) e outro da fisiculturista Lisa Lyon - as duas foram amplamente clicadas pelo artista em sua vida.
As imagens, quando não de flores ou de detalhes de plantas, na maioria enfocam partes do corpo como mãos, pés e mamilos. Na montagem, elas estarão expostas entremeadas pelas de temas florais. "São aproximações fáceis entre as imagens, em diálogo lado a lado, como a da flor copo de leite, tema famoso na obra de Mapplethorpe, com a de um torso masculino", acrescenta Gabriel.
Serviço
Mapplethorpe. Galeria Fortes Vilaça. R. Frad. Coutinho, 1.500, 3097-0384. 10/19 h (sáb. até 17h; fecha 2.ª e dom.). Até 20/6. Abre 5ª, 19h