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abril 27, 2009
Vik Muniz e sua pesquisa sobre a imagem interativa por Camila Molina, O Estado S. Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 no jornal O Estado S. Paulo, em 23 de abril de 2009.
Artista apresenta no Masp sua retrospectiva de 20 anos de trajetória, que evidencia a relação da fotografia com o desenho por meio de mais de 130 obras
Depois de passar pelos EUA, Canadá e México, a mostra retrospectiva de 20 anos de carreira de Vik Muniz chegou ao Brasil. Primeiro, a exposição foi apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio e, a partir de hoje, é exibida em São Paulo, no Masp, onde será inaugurada para convidados e amanhã para o público. A relação da fotografia com o desenho é o mote principal da mostra, como diz o artista. "Quero mexer com a ideia de imagem como interação", diz Vik Muniz, celebrado criador que é ao mesmo tempo bem-sucedido comercialmente e em termos de público.
Ver que ele criou a imagem, fotográfica, de um menino a partir de grãos de açúcar, da atriz Elizabeth Taylor com diamantes, de uma criança, com soldadinhos de brinquedo ou uma versão de O Nascimento de Vênus de Botticelli com sucata incita uma curiosidade direta nos espectadores. Aliás, o artista reforça que faz essencialmente suas obras para o espectador não-específico. "Se a relação da arte continuar a ser incestuosa, só entre seus pares, ela para de existir", diz o artista, de 47 anos, que vive nos EUA, mas também tem ateliê no Rio. Ele escolheu até mesmo colocar como título da exposição apenas seu primeiro nome, Vik. "Algo informal para que seja um convite."
São 131 obras, todas fotografias, mas não do gênero fotográfico puro, deve-se dizer, perpassando criações de desde 1988 até os dias atuais. Vik Muniz explora propositalmente um caráter híbrido e ambíguo da imagem, o que torna suas obras sedutoras. "Enfatizo o diálogo entre material (os objetos simples que ele usa para fazer as composições) e imagem, destilo a ideia do desenho com coisas muito práticas, ou a natureza da arte mesmo. Sou ambicioso, mostro esse processo", diz Vik. Ele se refere ao fato de querer desmistificar "uma arte muito ligada a deuses" e aliar sua vontade de fazer o espectador questionar a imagem a partir das camadas de significados que propõe em seus trabalhos, sempre feitos a partir de "ícones, estereótipos, arquétipos digeridos".
A exposição Vik, realizada pela Aprazível Edições e Arte, de Leonel Kaz e Nigge Loddi - a mostra é acompanhada de livro -, não abarca todas as séries do artista, mas pontua a relação da fotografia e do desenho com conjuntos temáticos precisos, alguns deles, inéditos, como Imagens de Papel (a partir de fotografias p&b) e Quebra-Cabeças. Vik começa com as primeiras obras de sua trajetória em torno da imagem, desenhos que fez a partir de fotos que via na revista Life e que fotografou. A partir daí, vemos sua pesquisa se problematizando cada vez mais, expandindo, inclusive, em escala.