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abril 13, 2009
Caldo Bourriaud na Tate, UbuWeb e Arte Capital
Vídeos e entrevistas atuais e passadas com Nicolas Bourriaud para nos ajudar a acompanhar as propostas do crítico francês e subsidiar também a discussão sobre o Panorama da Arte Brasileira de Adriano Pedrosa.
Vídeos com Bourriaud no evento Tate Triennial
Introdução dos temas da exposição
Arte Relacional é um "ismo"? / Relational Art: Is it An Ism?
Entrevista com Ben Lewis e vídeo do documentário Art Safari da BBC4, transmitido em julho de 2004.
O premiado escritor e diretor Ben Lewis, uma auto-confesso "art geek", dá uma volta pela arte contemporânea.
Enquanto todos os olhos nos anos 90 estavam centrados nos nossos próprios jovens artistas britânicos, um diferente movimento de arte global estava evoluindo. O importante crítico francês Nicolas Bourriaud descreveu-o como "Arte Relacional". Armado com o livro Estética Relacional de Bourriaud, Ben vai em busca do que ele espera que possa ser um novo "ismo".
Mas problemas aparecem no caminho: muitos dos artistas cujas reputações foram trabalhadas nas exposições e escritos de Bourriaud recusaram-se a ser entrevistados, negaram ser relacionais, ou uma vez entrevistados, tentaram proibir Safari Art de mostrar seus trabalhos.
Entrevista com Nicolas Bourriaud sobre o Altermoderno e a Trienal da Tate
Entrevista de Sílvia Guerra publicada originalmente na Arte Capital em Novembro-Dezembro de 2009.
Nicolas Bourriaud (n. 1965) é um dos filhos pródigos da arte contemporânea francesa. É simultaneamente curador, ensaísta, crítico de arte e globe-trotter. A sua carreira como curador adquiriu visibilidade a partir de algumas exposições internacionais em que participou, tais como: “Aperto 93” (Bienal de Veneza, sob curadoria geral de Achille Bonito Oliva), “Traffic” (CAPC, Bordéus, 1996), “Experience de la Durée” (Bienal de Lyon, 2005), e Bienal de Moscovo (2005 e 2007). Teorizou as novas práticas artísticas que eclodiram no final dos anos 90 e inícios do século XXI, com artistas como Philippe Parreno, Dominique Gonzalez-Foerster ou Rirkrit Tiravanija. Publicou diversos livros assumindo a autoria de novas teorias sobre a arte, como a da estética relacional. Aumentou a sua notoriedade quando, entre 2001 e 2004, protege a especificidade do Palais de Tokyo, lugar dedicado à criação contemporânea da cena cultural parisiense: que co-dirigiu com Jérôme Sans. Recentemente, em 2008, comissariou “Estratos” em Murcia, Espanha, e “La Consistance du Visible” na Fundação Ricard, em Paris. Em 2006 foi nomeado curador da Trienal da Tate, que decorre de 3 de Fevereiro a 26 de Abril de 2009. Foi sobre o conceito camaleónico de modernidade que trocámos aqui algumas ideias.
P: Para a Trienal da Tate, em Londres, propôs um novo conceito, que é o de “Altermodern”. Esta outra modernidade é a chave de interpretação desta grande exposição colectiva. Gostaria de saber se com este novo neologismo inventado por si, procura medir o nosso afastamento em relação ao movimento histórico da modernidade?
R: O “Altermodern” significa um duplo afastamento, seja em relação ao “pós-moderno”, seja em relação ao período moderno do século XX. Hoje a palavra “moderno” evoca duas coisas: o período histórico delimitado pela arte moderna, e a modernização do mundo, sob a égide do “progresso”. Ora aquilo a que chamamos moderno é um estado de espírito recorrente na história, que assume diferentes formas segundo as várias épocas.
P: Como se liga o “altermodern” à contemporaneidade? É um seu sinónimo ou é uma maneira de repensar a noção de contemporâneo?
R: O “Altermodern” é, para mim, a forma emergente e contemporânea da modernidade, ou seja, a de uma modernidade que corresponde aos desafios do século XXI, e especificamente ao momento histórico que vivemos e no qual nos inscrevemos, para o bem e para o mal: a globalização. Ser moderno, no século XX, correspondia a pensar de acordo com formas ocidentais; hoje, a nova modernidade produz-se segundo uma negociação planetária. Doravante, na sua reflexão plástica, os artistas tomarão como ponto de partida uma visão globalizada da cultura, e já não as conhecidas “tradições”: servem-se destas para se conectarem com o universal, para experimentarem novas vias. Por exemplo, Pascale Marthine Tayou utiliza os padrões culturais africanos para questionar os valores a partir dos quais os vemos a partir de Nova Iorque ou Berlim.
P: Como poderíamos definir o significado dessa noção para re-interpretar outras práticas culturais?
R: “Alter” significa outro, mas o prefixo evoca igualmente a multitude. Em política, a alter-globalização é uma constelação de lutas locais que visam combater a homogeneidade mundial. No domínio cultural, “alter-moderno” significa algo semelhante, é como um arquipélago de singularidades conectadas umas às outras.
P: A Documenta 12 de Kassel foi também um momento no qual se perguntou se a modernidade não seria a nossa Antiguidade. Por seu lado, o antropólogo Bruno Latour defende a ideia de que nunca fomos modernos. Mas, hoje em dia, poderemos ser algo para além de modernos?
R: Infelizmente, sim… O planeta inteiro está a ser percorrido por crispações identitárias, por retornos fundamentalistas, por radicalismos religiosos e políticos, e todos colocam em primeiro plano as raízes das assim chamadas “ identidades culturais”, que são um dogma. Deste facto, nasce hoje a necessidade e importância de fazer a recomposição de uma modernidade, cujo gesto primordial é o do desenraizamento do solo, do exôdo das tradições identitárias e das comunidades constituídas. No que diz respeito à Documenta, não podemos esquecer que o regresso à Antiguidade foi o sinal durante um longo período de tempo, do aparecimento da modernidade, cujo exemplo mais evidente é o Renascimento italiano. É certo que o modernismo do século XX constitui a nossa Antiguidade – aonde temos de regressar – mas para dar um mais efectivo passo em frente. Hoje irritarmo-nos com este revival modernista que pesa nas grandes exposições mas, na minha opinião, ele é apenas mais um fetichismo.
P: Entre os artistas que convidou para esta Trienal, estão alguns que trabalham sobre dois vectores que você considera irreductíveis do conceito de “Altermodern”: o tempo e a história, como um novo continente. Poderia apresentar-nos o trabalho de alguns desses artistas?
R: Os artistas procedem hoje por encadeamento de objectos visuais. Esta é a sua metodologia, e fazem-no através de obras que constituem arrêts sur l’ image” de um enunciado em perpétuo crescimento. Para fazer referência à obra de um artista emblemático, como é Seth Price, posso dizer que as suas formas permanecem em estado de cópia, mas sem adquirirem um estatuto como transitórias. As imagens são instáveis, estão à espera, entre duas traduções, de serem perpetuamente transcodificadas. Price desmotiva uma vã necessidade de classificar as suas obras, de lhes atribuir um lugar preciso na cadeia de produção e de tratamento da imagem. Os mesmos motivos são retomados com mais ou menos variantes em obras distintas. Outros como Nathaniel Melliors ou Spartacus Chetwynd, exploram a história como se ela fosse um espaço. Charles Avery, pelo contrário, cria a ficção de um universo inteiro que aboliu toda a noção de contemporaneidade. Todos eles fazem um mix de épocas e de estilos, tal como “semionautas” que produzem percursos através de diferentes épocas e estilos e a partir dos signos que pertencem a espaços-tempos afastados uns dos outros.
P: Numa entrevista disse que quando tinha perguntas fazia exposições, e que quando tinha respostas, escrevia livros… Que conclusões se pode tirar dessa metodologia? Como vê a articulação do seu trabalho com o momento histórico (ele mesmo tão volátil)?
R: O meu trabalho consiste em tentar fazer aparecer figuras no caos da produção contemporânea, ou seja, inventar chaves de leitura, utensílios teóricos que permitam ver a arte de hoje segundo um certo prisma. Esse trabalho efectua-se de forma discursiva num livro e transforma-se quando se trata de uma exposição: detesto a ideia de alinhar obras, uma após outra num museu, de forma a que se conformem ao que esperamos delas. Sabendo que toda a (boa) obra de arte é semionautas, obviamente que resiste à classificação sob a égide de uma teoria. Uma exposição é então um espaço-tempo de diálogo, um filme no qual me contento em fazer a montagem e para o qual escrevo as legendas.
P: Conhecemos as suas útimas obras, Esthétique relationnelle e Postproduction, que permitiram teorizar a arte após a morte da história da arte dos anos 90. Com o seu proximo livro Radicant, em que analisa a nova geração, o que nos é dado a conhecer?
R: A Trienal “Altermodern” e o ensaio Radicant, completam-se e respondem um ao outro, já que foram concebidos em conjunto. Em “Altermodern”, onde procuro descrever as suas condições de emergência, existe a articulação em torno de noções como a de precariedade (a arte que chama a atenção para a fragilidade de todas as construções sociais e mentais), de errância (como porta de saída do pós-moderno), de forma-viagem (na qual a obra se apresenta como percurso, e não mais como uma superfície ou volume), ou de implicação de temporalidades (a tessitura de espaços-tempo heterogéneos na obra).
P: Poderia explicar-nos como trabalha com os artistas e criadores que acompanha? Qual é o seu modus operandi enquanto curador?
R: Cada exposição tem a sua própria história. Esta foi concebida no quadro de uma série de discussões com actores do mundo da arte: por exemplo, a série de quatro “Prólogos” que precederam a Trienal, e que implicaram a participação de outros teóricos, de artistas e de críticos de arte. Depois, poderia dizer que, de uma forma mais geral, esta exposição foi concebida como se fosse um debate alargado.
P: E qual é o papel do crítico de arte nos nossos dias?
R: Hoje, mais do que nunca, é indispensável designar as coisas e fazer a sua análise. Perante um mundo como o actual, que progressivamente se reduz mais às dimensões de um supermercado de imagens e de signos, é urgente reafirmar o valor do comentário e da selecção. Isto poderia resumir-se deste modo: eu, um indivíduo entre outros, vou mostrar este objecto, que me parece mais interessante do que outros; e vou-lhes explicar porquê, e a partir de que valores emito este julgamento. Será que é necessário relembrarmo-nos de um velho adágio talmúdico, segundo o qual um texto (e por extensão, qualquer outro objecto) não adquire o seu real valor senão a partir do momento em que foi sujeito a um comentário?
P: Em Portugal, onde fazem falta mais revistas em papel consagradas à arte contemporânea, apropriámo-nos do formato digital para existir. A Artecapital existe desde há três anos… Poderemos dizer que fazemos parte de uma “alter-modernidade”? As diferentes velocidades de crescimento nos países europeus são uma das razões para que nos continuemos a sentir tão “far away so close”…
R: A verdadeira virtude do pós-modernismo foi a de equalizar filosoficamente, e mesmo juridicamente, as diferentes versões dos espaços-tempo que compõe o nosso mundo, e do qual certas versões eram precedentemente consideradas pelo mundo modernista como simplesmente “em atraso”. A “alter-modernidade”, é a coordenação estrutural produtiva das diferentes velocidades, com a finalidade de criar novas visões do mundo, uma modernidade que seja finalmente planetária e não simplesmente pseudo-Ocidental, que seja um arquipélago e deixe de ser “continental”, no sentido em que deixe de ambicionar a totalidade.
P: José Saramago escreveu, em 2008, um livro intitulado A Viagem do Elefante, no qual o seu protagonista paquiderme, proveniente da Índia, atravessa a Europa do século XVI. Nessa viagem “moderna” a palavra de ordem é: chegamos sempre ao sítio onde nos esperam. O que pensa desta visão da viagem? Ainda tem sentido?
R: A errância é, antes de mais, encontrar o que não se procura. É este o verdadeiro luxo intelectual num mundo onde se fabricam dóceis consumidores a partir de perfis-tipo.
LINK
ALTERMODERN – Tate Triennial 2009
Tate Britain, 4 Fevereiro – 26 Abril 2009
www.tate.org.uk/britain/exhibitions/altermodern/
BIBLIOGRAFIA
NICOLAS BOURRIAUD
Radicant
_Nova Iorque, Sternberg Press & Berlin (Merve Verlag), 2009.
Postproduction
_Dijon, Les presses du réel, 2004.
_Nova Iorque, Lukas & Sternberg, 2001.
Formes de vie. L’ art moderne et l’ invention de soi, _Paris, Denoël, 1999.
Esthétique relationnelle
_Dijon, Les presses du réel, 1998.
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Posted by: CraigLorraine30 at março 22, 2010 5:49 AM