|
abril 8, 2009
As cores de Beatriz Milhazes em Paris, O Tempo
Matéria originalmente publicada no jornal O Tempo, em 5 d abril de 2009.
Paris, França. Um dos monumentos mais emblemáticos da arquitetura contemporânea de Paris ganhou as cores de uma carioca. Coube a Beatriz Milhazes ser a primeira artista a realizar uma verdadeira fusão entre as obras expostas na Fundação Cartier e o incrível prédio todo em vidro, com uma levíssima estrutura metálica, realizado pelo premiado arquiteto Jean Nouvel. Beatriz, que abriu sexta-feira, no local, uma excepcional exposição, superou o desafio de criar dois coloridos painéis em vinil especialmente para o prédio.
As instalações sobre a fachada e sobre uma gigantesca parede de vidro interna, visível também da rua, interagem perfeitamente com a obra do arquiteto francês e chamam a atenção de quem passa em frente à Fundação Cartier.
Quem está acostumado a passar pelo local, onde o único elemento de decoração é um sofisticado jogo de luzes naturais e reflexos sobre o prédio, onde predomina a total transparência, vê agora, associado a isso, um amplo efeito de cores. Antes mesmo da abertura da exposição, alguns curiosos fotografavam a novidade.
As instalações sobre os vidros, realizadas com adesivos de vinil, não são as únicas obras da artista ali. A Fundação Cartier apresenta até 21 de junho uma retrospectiva da carreira de Beatriz Milhazes e expõe suas pinturas mais emblemáticas dos últimos 14 anos, além de "livros de artista", como ela chama seus livros com colagens, editados, por exemplo, pelo MoMA de Nova York, em edição limitada.
Uma colagem de cinco metros de largura por quatro metros de altura, a maior até hoje realizada pela artista, também foi encomendada pelo museu parisiense para a mostra. "Na Europa, esta é a maior exposição que já realizei. É uma combinação entre a quantidade de obras expostas e a importância da instituição", diz Beatriz, que fez mostra semelhante a essa, com pinturas, colagens e trabalhos sobre o vidro, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, em 2008.
O diretor da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, Hervé Chandès, antecipava o tom de deslumbramento que as telas de Beatriz devem provocar no público: "Essa exposição é muito importante em relação à maneira como esse belo prédio passa a ser habitado pela arte e pela pintura. A maneira como a obra de Beatriz Milhazes entra em harmonia com a construção de Jean Nouvel é um sucesso exemplar" disse Chandès, que tem forte ligação com a arte brasileira. No local, já foram exibidos trabalhos de Tunga, Adriana Varejão e Alair Gomes.
Para expor as pinturas da artista no amplo andar térreo da Fundação, sem paredes internas, apenas vidros por todos os lados, e onde normalmente são exibidas instalações, o museu construiu diversas "paredes" em um branco imaculado, uma para cada tela.
Tudo foi estudado, durante dois anos, para avaliar a incidência da luz natural sobre as obras e também o jogo de luzes que a colagem da fachada, a "Casa de Baile", teria sobre os quadros na parte interna do prédio.
"Construímos tudo aqui. Foi uma experiência espetacular. Primeiro porque foi necessário desenhar o espaço onde a exposição seria montada. Normalmente, os locais já estão prontos", diz Beatriz, para quem interagir com a obra de Jean Nouvel foi uma experiência única. "O trabalho na Fundação Cartier reage muito com a luz. É um movimento constante."
Pelo mundo
Beatriz Milhazes é hoje uma das artistas brasileiras mais cotadas no exterior: uma de suas obras foi vendida por cerca de US$ 1 milhão em um leilão da Sotheby’s. Entre seus projetos está uma mostra em Londres no próximo ano e a apresentação da exposição da Pinacoteca de São Paulo no Malba, em Buenos Aires. Também em 2010, ela continua trabalhando no lançamento do livro da editora alemã Taschen e em um projeto "secreto" da joalheria Cartier.