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abril 8, 2009
Artistas cobram política de uso mais eficiente, Zero Hora
Matéria originalmente publicada no jornal Zero Hora, em 6 de abril de 2009.
Parte das mais interessadas na implantação de novos centros culturais, a classe artística de Porto Alegre se mostra cética quando o assunto é a região central da cidade.
Uma certa negligência para com a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e a falta de segurança são os principais pontos negativos apresentados por músicos, atores e artistas plásticos, embora vantagens evidentes, como sistema de transporte, estrutura e público constante sejam razões suficientes para que o Centro continue a receber investimentos do gênero.
O artista plástico Leandro Selister faz parte do grupo que, apesar de aplaudir os novos espaços, alerta para o esquecimento de alguns pioneiros.
– É preciso reverenciar uma iniciativa como o Multipalco, que acabou de inaugurar sua concha acústica. mas não se pode relegar a CCMQ como se faz atualmente – aponta, sobre o espaço que abrigou sua primeira exposição, em 1990.
A mesma crítica faz Giancarlo Carlomagno, integrante do grupo de teatro Oigalê, para quem não adianta criar espaços – é preciso uma política coerente de utilização.
– A CCMQ tem salas de teatro, cinema, multiuso, mas, se houvesse mais investimento direto, sua programação poderia ser bem mais ampla – diz, apontando que segurança e falta de locais para estacionar já o fizeram deixar de ir ao Centro.
Por outro lado, as calçadas por onde caminharam Mario Quintana ainda merecem mais prestígio do que qualquer outra, na opinião do músico e compositor Nelson Coelho de Castro, veterano de noites no Centro. Depois de uma histórica debandada, os complexos culturais teriam o papel de trazer as pessoas de volta. Diz ele:
– O Centro é o centro, é o marco zero da cidade. Ele precisa se reconhecer, ter uma vida própria, um jeito próprio. É fundamental para a manutenção da identidade cultural.
Selister, que já expôs em outros espaços centrais como a Usina do Gasômetro, ressalta a praticidade e visibilidade que o Centro proporciona como grande mérito.
– Como eu, muitos artistas querem que um número cada vez maior de pessoas vejam o que fazem. E no Centro isso é possível, dada a concentração dos espaços.
A ideia de reunir centros culturais numa só região pode não ter sido planejada, mas é uma realidade. Reconhecida como benéfica pelo diretor do Centro Municipal de Dança, Airton Tomazzoni:
– Minha impressão é de que temos um bom percentual de gente que frequenta os lugares porque eles fazem parte do seu trajeto cotidiano, então tornam-se uma opção que não existiria de outra maneira, embora também exista um público que venha especialmente para usufruir dessas casas.