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março 23, 2009
Mapeamento da nova geração de artistas revela pouca ousadia por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na sessão Acontece do jornal Folha de S. Paulo em 22 de março de 2009
Com exceções, como Kilian Glasner, Tiago Carvalho e o grupo Empreza, exposição mostra obras em formatos simples e fáceis
Após três anos, novamente o Itaú Cultural apresenta a mostra Rumos Artes Visuais, desta vez sob coordenação geral de Paulo Sergio Duarte e com o subtítulo "Linhas do Desejo".
Em seu formato, o Rumos é muito parecido com um salão de arte contemporânea, portanto uma reunião de trabalhos produzidos recentemente, que funcionam como registro instantâneo de uma geração que está por se afirmar.
A diferença notável é que ele conta com uma extensa equipe curatorial -são 12 pessoas além do coordenador-, o que deveria representar um esforço extra para um mapeamento significativo da produção atual.
Entretanto, se a nova produção de fato se reflete nas 72 obras da mostra, a geração que surge parece vir com problemas. Ousadia, que em geral é o esperado de quem não tem ainda amarras no circuito, é rara. Mas ela acontece, e curiosamente é mais visível num espaço fora da sede do Itaú Cultural, numa casa sete quadras distante, onde Kilian Glasner e Tiago Carvalho realizam seus trabalhos. Glaser destrói parcialmente o segundo andar do local, enquanto Carvalho monta no primeiro a "Galeria Boliche", repetindo uma experiência similar realizada na cidade de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais.
Frescor
Mesmo no prédio do Itaú, obras como "Itauçu", do grupo Empreza, de Goiânia, uma instalação complexa e misteriosa, fruto de performance realizada na abertura da mostra, trazem algum frescor ao conjunto.
Em sua maioria, contudo, os trabalhos parecem se encaixar em formatos simples e fáceis, prontos para o mercado. Realizados com receitas já conhecidas, muitas dessas obras parecem simples referências a algum nome já conhecido da cena contemporânea. Alguns vídeos lembram a poética de Cao Guimarães, outros trabalhos a apropriação de objetos cotidianos como ocorre com Marepe ou Rivane Neuenschwander.
Nem todos que usam esse tipo de procedimento, no entanto, são tão redundantes, como se observa com Marcelo Moscheta em "Estudo para Espaço", uma singela mas fascinante representação do céu com algodão e caixas de bombom.
Tem sido consenso em artigos de revistas especializados que o colapso financeiro mundial deve reposicionar os caminhos da arte atual, tornando-a mais livre e arrojada. A produção que se vê nessa edição do Rumos ainda está, definitivamente, querendo participar de um mundo que acabou e, pior, sem reflexão.
Nossa! Que bom! A Crítica...! Bem-vinda...!
Não há dúvida que a parada financeira mundial irá apontar novas direções e posturas para o mercado como um todo. Especificamente o da arte contemporânea que sofrerá mudanças colaterais e radicais com certeza.
Depois dessa farra financeira, não se pode imaginar que o mercado continue comprando apropriações precárias... A arte nunca esteve tão livre, principalmente as produções contemporâneas. Audácia e o que não falta...
Não se pode pensar a arte sem o seu mercado, a arte se nutre dos colecionadores, dos museus, das instituições privadas e públicas. Faz-se necessário a urgência por repensar a qualidade da arte que se produz hoje. Continuamos no vazio, sem norte, sem porto. Os rumos são incertezas que insistem...
Posted by: Roberto Silva at março 24, 2009 8:34 PMResposta à matéria de Fabio Cypriano
Considerando e ainda apostando que o espaço da crítica é o lugar do debate público de idéias, gostaria de fazer alguns apontamentos sobre o texto de Fabio Cypriano, “Mapeamento da nova geração de artistas revela pouca ousadia” (Folha de São Paulo 22/03/2009).
O que primeiramente me chamou a atenção foi o uso de qualificativos para uma certa produção (mostrada na exposição), seja a uma que se legitima e a outra que se problematiza, que são muito vagos e talvez vazios sentido. Sentidos estes que o texto não procura esclarecer. Não entendo, e o texto não quer nos explicar, o que é uma mostra com obras de “formatos simples e fáceis (sic)”, da mesma maneira que não entendo o que significaria o tal “frescor” ou “ousadia”, índices de qualidade para algumas obras. O articulista, mal se dando conta, repete alguns erros perniciosos de um tipo de circuito (e existem muitos tipos de circuito, como ainda vou falar neste texto) que numa rapidez de julgamento, se recusa a verdadeiramente a enfrentar as 45 obras mostradas, baseando-se em pré-conceitos de algo que poderia ser definido como uma qualidade desejada (qual seria ela?) para determinadas instâncias de legitimação.
Outra afirmação do articulista que não concordo diz respeito à comparação do formato do Rumos a de um salão de arte contemporânea. Isto, no mínino, revela um desconhecimento do trabalho dos 14 meses que antecederam a mostra que abriu no Itaú Cultural em março deste ano. A pesquisa de campo dos oito curadores assistentes em praticamente todas as capitais dos estados e muitas cidades do interior para conhecer os trabalhos dos artistas e um pouco dos mapas culturais (instituições de ensino, museus, galerias, coletivos, etc.) e um processo seletivo dado em dois momentos perfazendo duas semanas inteiras certamente diferem de qualquer salão que eu conheça. Todo esse referencial de conhecimento de campo serviu de base para que nossa seleção evitasse julgamentos rápidos e fosse minimamente respeitosa com a qualidade dos trabalhos e seus artistas.
Curioso que um outro problema detectado pelo articulista possa ser lido de forma positiva por muitos (eu inclusive). Se foram observadas certas filiações formais e conceituais dos trabalhos mostrados com relação a artistas brasileiros como Marepe, Cão Guimarães ou Rivane Neuenchwander, isto denota que finalmente (falta muita coisa ainda) trabalhos contemporâneos são conhecidos em diversos pontos do país. E se isso não demonstra que os museus brasileiros de arte (com as honrosas exceções) estão constituindo seus acervos contemporâneos e tornando-os visíveis, ao menos demonstra que nosso mercado editorial de livros e catálogos de arte está cumprindo sua função como informação e pesquisa.
Parece que está sendo formado um mínimo circuito de visibilidade e conhecimento da arte brasileira contemporânea. Aliás, pode-se mesmo inferir que há um circuito de arte brasileira que se está construindo, à despeito de políticas públicas ainda incipientes (com as devidas e honrosas exceções), nos coletivos, em grupos de estudo e universidades de arte. Ao analisarmos boa parte dos portifólios notamos uma profissionalização do fazer artístico observado numa postura que se reflete na maneira como os jovens artistas constroem suas trajetórias e na forma como se explicitam suas discussões poéticas. E isto é produto de um circuito de discussão, pesquisa, trocas e intercâmbios arduamente construídos por parte dos jovens artistas brasileiros Neste sentido não entendo que outro tipo de produção se esperava de artistas que “ainda não tem amarras no circuito”. De qual entendimento de circuito o articulista parte?
Por último, causou-me muita estranheza e preocupação o final do breve texto do articulista quando toma por base artigos de revistas especializadas (quais? quem escreveu?) que apontam um outro estar da arte (uma nova onda? seria a última moda?) de uma produção mais livre e arrojada (continuo sem saber os sentidos destes adjetivos vazios). E eu me pergunto, isto é argumento para se desmontar a pertinência da maior parte dos trabalhos dos artistas da exposição Rumos Visuais de 2009? Mais reflexão eu peço é para a crítica de arte.
Paulo Reis – um dos curadores do programa Rumos Visuais/2009.
(este texto é uma resposta pessoal, e não coletiva ou institucional, ao texto de Fabio Cypriano)
"""Mapeamento da nova geração de artistas revela pouca ousadia por Fabio Cypriano""""
Mapeamento da galerias de arte, curadores, etc revela pouca ousadia dessas instituições/pessoas em apostar no novo...
...e que venham os mesmos artistas de sempre e tragam um novato...
Posted by: Ronaldo Occy at março 31, 2009 7:42 PMRealmente esta edição do rumos não fortalece nossas possibilidades. Não vemos nada além de receitas chupadas de artistas já firmados.
O que nos parece é que os curadores apoiaram o q poderia ser facilmente engolido pela massa, porém, nos insulta. Queremos ver uma exposição que aponte novos caminhos com sabedoria e coragem.
É evidente o receio de certos articuladores em quebrar, separar, ter coragem de fazer a crítica, isso faz falta. Felizmente, de tempos em tempos, isso acontece como agora no texto pertinente e corajoso do Fabio Cipriano. Todo texto, que não é e se diz crítico sobre nossas produções contemporâneas, se limita por fazer o expectador entender os processos da obra, a bula... Para os especialistas que convivem no território acadêmico essa poética visual traz sempre novidades, mas para os que estão fora desse universo se faz necessária sua tradução em nosso tempo...
Esse meio morno da arte contemporânea precisa de um choque precisa ouvir o que é bom e o que é ruim. É preciso mudar essa prática do politicamente correto... Penso que muitos mentem, não atacam e nem tão pouco se defendem...
Arte contemporânea em nossa contemporaneidade tem em suas vertentes variadas manifestações, por isso é fundamentalmente necessário o olhar crítico. A crítica não pode ser conduzida, ela é autônoma, imparcial. A crítica sempre será incisiva, pois se não for não é crítica e sim um mero comentário...
É bom ter a crítica de volta, pois ela provoca uma química favorável.
menos fabio, dizer o trabalho do kilian tem um frescor? nada mais visto e revisto e revisitado, vc ja viu as pinturas dele? pesquise mais nêgo, menos!
Posted by: helisacoimbra at abril 7, 2009 12:29 PMFábio não está escrevendo uma tese de mestrado no jornal, por isso mesmo a forma como ele desenvolveu o texto está de acordo com a mídia impressa e deve servir para gerar discussões, assim a resposta do curador pretende o que? ... Devemos lembrar que o tal seminário realizado pelo rumos foi fechado ao público... ops...
Posted by: silvasin at maio 8, 2009 11:09 AMNão creio em verdades absolutas, elas se diluem... inclusive aqui. Entretanto, uma coisa é certa: O Rumos não apresenta um conjunto de obras que tragam rupturas com a modernidade brasileira, busca exatamente a identidade com modernidade, atitude que é a cara dos senhores curadores que criaram esse perfil da mostra. A exposiçao lembra um salão sim, aqueles que a Funarte faziam na década de 80, no Rio de Janeiro. Elo facilmente compreendido pela estreiteza do curador-chefe do Rumos com aquela instituiçao. O DNA é este, de um partidarismo da modernidade revestido com o emblema da arte contemporanea. Nao acredito que dos 1600 inscritos, estes 45 que estão nesta mostra sao seja a cara de uma geraçao promissora. Uma coisa é a leginitmidade a outra é a anuência dada a ela pela subjetividade destes curadores. O excessivo número de artistas do Pará, sem a devida correspondencia relacionada à contemporaneidade,uma pernambucana com fotos de caráter antropológico, de alegoria primitiva da estética personalística do Movimento Armorial, sao algumas das obras que me causam desinteresse pela férula causada há tantos outros artistas que ficaram de fora e com maior relevância nos seus procedimentos artísticos. Em São Paulo eu conheço alguns que ficaram de fora, no Brasil esse número deve aumentar. Cabe ao Rumos, rumar para novos rumos, adotando em seu critério novos curadores que dialoguem enfaticamente com a arte atual. Ao Paulo Reis, é um equívoco se colocar na infantaria para defender-se desse engodo que é este resultado da ediçao do Rumos, principalmente por ter vindo de uma instituiçao que gasta alguns tantos reais para uma mostra com 45 artistas e sete curadores. Uma pena!
Posted by: Manoel Nobrega at maio 8, 2009 3:02 PM