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fevereiro 26, 2009
Toda nudez será aperfeiçoada por Paula Alzugaray, Istoé
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na Revista Istoé, em 18 de fevereiro de 2009.
Galerias paulistanas unem esforços em uma grande mostra sobre a representação do nu na arte moderna e contemporânea
Adriana Varejão faz, na fotografia Dadivosa (1999), uma viagem à arqueologia da arte, a um tempo remoto em que nem mesmo o padrão de beleza clássica havia sido inventado. Assim como em sua representação de uma Vênus de quatro peitos, a fotografia O escultor e a deusa (1995), de Ernesto Neto, também evoca as mitologias antigas. Ambos se referem a um momento em que as representações da nudez haviam apenas começado a surgir. Os trabalhos integram a mostra Nus (Nudes), composta por mais de 100 obras de artistas brasileiros e estrangeiros, a partir do acervo contemporâneo da galeria Fortes Vilaça, do acervo moderno da galeria Bergamin e de empréstimos de outras galerias.
"A exposição divide-se em dois módulos: erotismo e referências históricas", afirma Alexandre Gabriel, que assina a curadoria. O segmento de arte erótica - também conhecido, desde o Império Romano, como ars erotica - reúne na Fortes Vilaça desenhos do pernambucano Gil Vicente e fotomontagens da polonesa Goshka Macuga, entre outros, além de promover a aproximação inédita entre os trabalhos do contemporâneo Luiz Zerbini e do moderno Di Cavalcanti.
"Zer bini fez uma versão da capa do disco Electric ladyland, de Jimi Hendrix, a partir de uma vontade de se aproximar das mulatas do Di Cavalcanti", afirma o curador.
Entre as referências históricas não há apenas exemplares da arte moderna, como Anita Malfatti, ou da arte acadêmica, como Carlos Leão. Incluem-se também as releituras e reflexões que artistas contemporâneos fazem de representações da nudez em períodos diversos da história da arte. Assim, nas esculturas do paulistano Edgard de Souza ecoam os mármores gregos de corpos atléticos em movimento. O mesmo cruzamento temporal aparece na pintura do americano Roe Ethridge, que representa um corpo renascentista tomando Diet Coke.
Se ao longo da história a realização do nu esteve sempre vinculada a um aperfeiçoamento técnico, visando a uma representação cada vez mais próxima de um ideal de beleza, harmonia e graça (pelo menos até o aparecimento de Picasso, no início do século XX), a arte contemporânea não o faz sem uma boa dose de crítica e ironia.