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fevereiro 26, 2009
Livro lista 77 nomes que compõem história da arte contemporânea brasileira por Suzana Velasco, O Globo
Matéria de Suzana Velasco originalmente publicada no Segundo Caderno do jornal O Globo, em 26 de fevereiro de 2009.
RIO - Você está perdido? Todo mundo também está." Assim o crítico de arte Paulo Sergio Duarte se dirige a um público leigo em artes, ainda que letrado, em seu recém-lançado livro "Arte brasileira contemporânea - Um prelúdio" (Silvia Roesler Edições de Arte). Além de apresentar um texto que procura dar sentido histórico à arte contemporânea - há "luz no início do túnel", diz ele -, o livro relaciona, com imagens e pequenas biografias, 77 artistas que compõem essa história no Brasil, de Hélio Oiticica e Lygia Clark a jovens que o crítico, assim como o leitor, ainda está tateando:
- Eu estou perdido, no sentido de que não sei no que a arte contemporânea vai dar - afirma Duarte. - Mas essa não é uma situação das artes. A crise que o mundo está vivendo, ninguém antecipou. O mundo contemporâneo não é previsível e não pode cobrar da arte previsibilidade.
É desse mundo imprevisível, em que brotam tantas teorias e críticas, em que as cifras estratosféricas dos leilões não são parâmetros para se dar valor a uma obra de arte, é desse mundo que o crítico se aproxima. Com uma sólida experiência acadêmica, Duarte se volta para o leitor não especializado, porém interessado em artes, muitas vezes confuso com a aparente falta de parâmetros nas obras contemporâneas.
- Hoje os projetos são muito mais radicalmente idiossincráticos. Cada artista tem seu próprio idioma, seu vocabulário visual é formado por ele mesmo - diz. - Em qualquer lugar do mundo, se você vir uma obra com vidro, ímãs e malha de ferro, vai reconhecer uma obra do Tunga.
Vinte e um dos artistas mostram um pouco de seu idioma num DVD dirigido pelo cineasta Murillo Salles, com extras de trechos de vídeos de artistas. O livro traz ainda um CD-ROM com entrevistas de Duarte a 15 críticos e curadores - de Ferreira Gullar, crítico veemente da arte contemporânea, a Ana Paula Cohen, cocuradora da última e polêmica Bienal de São Paulo. O autor, assim, oferece vários caminhos a quem quiser se aproximar melhor dos artistas e da arte de hoje.
Duarte, que nos últimos anos trabalhou em projetos como a Bienal do Mercosul e o Rumos Itaú Cultural, conta que começou a se dar conta de que a arte contemporânea data dos últimos 50 anos e que uma perspectiva histórica poderia lhe dar mais sentido. Ele diz que esse caráter idiossincrático de que fala, por exemplo, tem origem na própria modernidade, quando já se percebia uma diferença radical na linguagem de pintores como Cezánne, Seurat, Gauguin e Van Gogh.
- O próprio da alta modernidade é esse momento que aponta para várias dimensões simultaneamente. No Renascimento ou no barroco, era impensável haver artistas com linguagens absolutamente diferentes - diz ele. - No caso brasileiro, o que me interessava sublinhar é que a modernidade não se impôs com contundência e com força em termos visuais. A cultura visual brasileira nunca incorporou as experiências radicais dessa modernidade, ela não se impôs à arte contemporânea como um superego. Por isso, o artista brasileiro não tem um índice de revolta, ele dialoga com questões modernas e se utiliza da sintaxe moderna, apesar de usar materiais contemporâneos.
Caros organizadores do Canal, gostaria apenas de assinalar que a matéria assinada por Susana Velasco tal como aparece transcrita no site parece estar incompleta. No texto orginal publicado no jornal O Globo creio que havia ainda mais um ou dois parárafos.Não sei se a intenção do canal é mesmo divulgar apenas parcialmente os textos, nesse caso me desculpem pela intromissão.
Atenciosamente e muitos parabéns pelo Canal.
Lilian.