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fevereiro 19, 2009
Desejo de reencontro por Tatiana Py Dutra, Zero Hora
Matéria de Tatiana Py Dutra originalmente publicada no Segundo Caderno do jornal Zero Hora, em 19 de fevereiro de 2009
Carlos Vergara, artista que está com grande exposição em Porto Alegre, fala sobre Santa Maria, cidade onde nasceu e à qual não voltou mais
Santa Maria está de olho em um artista que nasceu lá, que construiu uma carreira admirável, de projeção nacional, mas que nunca voltou a sua própria cidade. Trata-se de Carlos Vergara, 67 anos, gaúcho radicado no Rio de Janeiro, atualmente em cartaz no Margs, em Porto Alegre, com a exposição Sagrado Coração, que tem como ponto de partida as ruínas de São Miguel das Missões.
O secretário de Cultura de Santa Maria, o artista plástico Titi Roth, diz que entrará em contato com Carlos Vergara para convidá-lo a expôr na cidade o mais breve possível. O plano é que as obras dos grandes artistas da região (além de Vergara, Carlos Scliar e Iberê Camargo) sejam expostas no Museu de Arte de Santa Maria (Masm). Para que isso aconteça, Roth quer fechar uma parceria com o Margs. Ele fala com entusiasmo da obra de Vergara:
– Ele tem uma pintura extremamente vigorosa e contemporânea. Há toda uma trajetória de brasilidade na cor, nos elementos que ele usa. É uma produção representativa de nossos valores.
Apesar de jamais ter morado no Estado, Vergara colocou o Rio Grande em seu mapa-múndi artístico na mostra Sagrado Coração, um olhar do artista sobre as ruínas de São Miguel das Missões, em cartaz no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Em uma das idas às reduções jesuíticas, no ano passado, o artista sobrevoou sua terra natal e sentiu uma certa nostalgia.
– A Santa Maria, não voltei não por falta de curiosidade, mas de oportunidade – diz. – Iberê Camargo (pintor gaúcho que foi professor de Vergara), que tinha uma relação grande com Santa Maria, tentou mesmo fazer uma exposição minha lá. É uma coisa que ainda está para acontecer. Tomara que aconteça logo.
Carlos Vergara deu entrevista, de seu estúdio em Santa Teresa, no Rio, por telefone. Na oportunidade, vibrava com a expectativa de desfilar no bloco carnavalesco Cariocas do Mundo, formado só por pessoas que vivem no Rio de Janeiro mas que não nasceram lá.
– Já tem até uma ambulância contratada. Pode ser a última entrevista – riu o artista, de 67 anos.
“Quero pisar no chão onde eu nasci”, diz Vergara.
“Diga aí para os nossos conterrâneos, que espero ter oportunidade de fazer alguma coisa em Santa Maria, uma exposição, alguma obra. Soube de dois lugares que me interessariam muito. Um é a velha estação férrea. Talvez eu pudesse fazer uma coisa que não fosse pieguice de novela (risos). Outra são umas águas paradas que Iberê pintou, em 1939 ou 1940, e que ficam na região de Santa Maria. Me interessaria muito visitar esses locais e retrabalhar com olhos contemporâneos uma coisa que ele pintou na época em que eu estava nascendo. Só estou esperando um convite para visitar a cidade, da universidade, da prefeitura. Se me chamarem, eu vou. Sobrevoei Santa Maria, na última vez que fui a São Miguel, ano passado. Mas quero pisar no chão, olhar as colinas, andar, e de repente, descobrir em qual maternidade eu nasci. Quero revisitar os alfarrábios da minha velha certidão de nascimento.”