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fevereiro 11, 2009
Artes Visuais - Situação de risco, por Nahima Maciel, Correio Brasiliense
Matéria de Nahima Maciel, originalmente publicada no jornal Correio Brasiliense, no dia 10 de fevereiro de 2009
Demissão de Bené Fonteles, curador do Museu de Arte de Brasília, traz novamente à tona a crise da instituição, fechada e sem a reforma de que tanto precisa
Decepcionado com a impossibilidade de reformar e revitalizar o Museu de Arte de Brasília (MAB), o curador Bené Fonteles pediu demissão do cargo ocupado desde maio de 2007. Interditado pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (Prodema) desde junho do mesmo ano por causa das instalações inadequadas, o MAB teve o acervo transferido para o Museu Nacional da República, na Esplanada dos Ministérios, e a promessa de reforma por parte da Secretaria de Cultura do DF adiada sem prazo de início. "Não há política do GDF para museu, isso todo mundo sabe, tanto para o Museu Nacional quanto para o Museu Vivo da Memória Candanga. Não houve vontade política e cultural para que o MAB fosse restaurado. Me sinto curador de um museu que não existe", desabafa Fonteles.
Silvestre Gorgulho, secretário de Cultura, explica que o prédio ocupado pelo MAB ao lado do condomínio Lake Side e da Concha Acústica nunca foi apropriado para um museu e que ainda há dúvidas sobre o destino da instituição. "O projeto para o MAB virar museu é muito bonito, mas custa R$ 6 milhões. O projeto está pronto, já conversei com a Secretaria de Obras. Mas quero fazer uma comissão para ver se é melhor fazer mesmo o MAB ou pegar o acervo e jogar no Museu Nacional. Não sou eu quem vai decidir isso", avisa Gorgulho.
Em 2008, um pedido de Fonteles a Gilberto Gil, então ministro da Cultura, garantiu repasse de R$ 300 mil do Ministério da Cultura (MinC) para a secretaria do GDF. O dinheiro deveria ser destinado a uma série de nove projetos, que incluíam aquisição de molduras, restauro de obras e aparelhamento técnico. Fonteles diz que o valor foi repassado para a Secretaria de Cultura, mas as licitações para a tomada de preços das empresas que executariam as obras nunca foram adiante. "Nos disseram que o dinheiro foi aplicado. Era a informação que tinha do secretário", afirma o ex-curador. No entanto, Silvestre Gorgulho garante que o dinheiro nunca entrou na conta do órgão. "Sei que houve essa intenção. Não foi repassado. Foi pedido, anunciado, mas não repassado. Devem ter prometido de boca porque não entrou dinheiro de MinC nem de Iphan. Não assinei nenhum convênio", afiança Gorgulho.
Segundo Eneida Braga Rocha, gerente de articulação e fomento do Departamento de Museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o recurso foi liberado, mas nunca foi executado. "Foi repassado no fim de 2007 para execução em 2008. Acompanhei duas reuniões no primeiro semestre e estava esperando a execução, mas eles tinham dificuldade de abrir uma licitação para contratar a empresa", ela conta. Para utilizar o recurso, a Secretaria de Cultura precisaria submeter o projeto à avaliação da consultoria jurídica do Iphan até 31 de dezembro. "Senão perdem o dinheiro, que seria devolvido ao tesouro nacional", explica Eneida.
Durante os quase três anos em que ocupou o cargo, o curador procurou fazer o acervo circular por galerias da cidade. Na carta de demissão, ele lembra que promoveu 17 exposições, a maioria como parte do projeto MABMóbile, para que as obras não ficassem longe dos olhos do público. "O acervo está guardado de forma gravíssima, uma obra de arte não pode ficar mais de três meses em plástico bolha e algumas estão lá há um ano e meio", lamenta. "A secretaria não tem estrutura para manter museu nenhum, não tem museólogo, técnico, conservador, lugar para manter o acervo, uma coisa surrealista. Nunca tinha me visto nessa situação, é muita omissão do Estado."
Para dar um rumo ao MAB, Silvestre Gorgulho pretende criar uma comissão de estudos destinada a decidir o futuro do museu. Os integrantes já foram convidados e, de acordo com o secretário, são Ione de Carvalho, atual subsecretária de políticas culturais, Glênio Lima, diretor do MAB, Ana Frade, museóloga do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico (Depha), e Laís Scuotto, fundadora do Museu dos Correios. "Em duas reuniões, eles encontram uma solução e eu implemento", garante.
Principais problemas
- Reserva técnica não possuía móveis adequados e climatização, além de não ter portas adequadas para garantir a segurança das obras.
- Vazamentos no teto ameaçavam a segurança das obras.
- O acervo está guardado na reserva técnica do Museu Nacional da República, que também não tem mobiliário adequado.
- O quadro de funcionários do museu não prevê museólogo, restaurador nem curador. O cargo de Bené Fonteles era, na verdade, de gerente.
- O acervo conta com 1.300 obras, em grande parte peças representativas da transição da arte moderna para a contemporânea.
É uma tragédia, como tudo o que anda acontecendo em questão de cultura, na cidade.
Nosso governador prometeu (informe da CBN que esses espaços iriam ser reformados para ter qualidade o nosso turismo).Não há duvida sobre a competencia dessa equipe!
Um acervo tão bom, será que perder obras de valor, não é considerado desperdício ?
Nessas condições teriamos restauradores contratados? Essas obras nos pertencem! o poder não tem direito de esquecer e não concervar!
Para fazer obra faraônica para presidentes o GDF tem dinheiro...para manter o que já foi feito desde a déc. de 60 não existe nem migalha...o prédio do MAB impede a expansão de flats na área onde ele está.
Não vou me espantar se ele pegar fogo ou for demolido nos próximos 4 anos.
Aqui nas terras de Uber o museu é da Universidade, tem museólogo, estagiários, biblioteca, montadores, educativo, conselho curador...no final das contas quem tem interesse em conservação, restauração, história, é quem tem interesse em idéia, pesquisa, ensino, pensamento!
O MAB está nas mãos erradas, seu "dono" está louco para sumir com ele, é uma pedra no sapato, só dá gastos, não dá dinheiro e difama. Os políticos em Brasília tem síndrome de JK, querem sempre construir uma cidade nova!
A distância esta me fazendo sentir o gosto amargo desta cidade.
Posted by: Clarissa Borges at fevereiro 17, 2009 8:08 PMUm verdadeiro absurdo o que estão fazendo com o MAB, para atender aos interesses da especulação imobiliária. Investiram milhões em um museu sem acervo, um lindo prédio do Niemeyer porém nada adequado para museu; e o fantástico acervo do MAB fica ao deus-dará. Em uma cidade super-carente de cultura. O acervo do MAB é muito bom, excelente mesmo, criado através de prêmios de aquisição (ou seja, dinheiro de impostos, ou seja, dinheiro do contribuinte) principalmente nos anos 1980, além de doações, e está se deteriorando. Uma lástima.
Posted by: Jozias Benedicto at fevereiro 18, 2009 2:59 PMO que está acontecendo com Brasília é bastante sintomático de uma mudança radical sofrida em 1998 com a saída do entao governador Cristovam Buarque e a entrada de Joaquim Roriz. Em dez anos, o pouco de utopia que alimentava a existência da cidade evaporou com a voracidade de uma nova elite e seu domínio direto sobre o capital imobiliário da cidade.
A questao é: o Museu de Arte de Brasília faz parte de uma área da cidade guardada e reservada durante esses dez anos para investimentos estatais que apenas valorizarao (as externalidades positivas, como dizem os economistas) o capital privado (os apartamentos travestidos de hotéis que literalmente "engoliram" o MAB e a Concha Acústica). O que aconteceu com o MAB é muito pior do que parece: já foram iniciadas as obras do GDF que retomam o Projeto Orla do governo de Cristovam e que possui vários equívocos em sua gênese. Fato é que em breve aquela área será um pólo gastronômico (já foram vendidos 6 terrenos para donos de restaurantes) com uma tal de marina pública que parece eliminar o acesso público ao lago (hoje o pier que existe é usado nos fins de semana pela populaçao local da Vila Planalto) e um comércio voltado para o consumo da classe alta. Provavelmente o MAB já estivesse mesmo na rota de colisao de todas essas propostas...
Yana Tamayo
Artista visual e moradora da Vila Planalto, Brasília (vizinha da orla e do MAB)
O que está acontecendo com Brasília é bastante sintomático de uma mudança radical sofrida em 1998 com a saída do entao governador Cristovam Buarque e a entrada de Joaquim Roriz. Em dez anos, o pouco de utopia que alimentava a existência da cidade evaporou com a voracidade de uma nova elite e seu domínio direto sobre o capital imobiliário da cidade.
A questao é: o Museu de Arte de Brasília faz parte de uma área da cidade guardada e reservada durante esses dez anos para investimentos estatais que apenas valorizarao (as externalidades positivas, como dizem os economistas) o capital privado (os apartamentos travestidos de hotéis que literalmente "engoliram" o MAB e a Concha Acústica). O que aconteceu com o MAB é muito pior do que parece: já foram iniciadas as obras do GDF que retomam o Projeto Orla do governo de Cristovam e que possui vários equívocos em sua gênese. Fato é que em breve aquela área será um pólo gastronômico (já foram vendidos 6 terrenos para donos de restaurantes) com uma tal de marina pública que parece eliminar o acesso público ao lago (hoje o pier que existe é usado nos fins de semana pela populaçao local da Vila Planalto) e um comércio voltado para o consumo da classe alta. Provavelmente o MAB já estivesse mesmo na rota de colisao de todas essas propostas...
Yana Tamayo
Artista visual e moradora da Vila Planalto, Brasília (vizinha da orla e do MAB)